Quando a universidade é atacada, a sociedade também é

Teresa Lopes
Professora e Presidenta da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Pernambuco (Adufepe)

Publicação: 08/05/2024 03:00

Quando dizemos que a educação é a base para o futuro, estamos indo além do senso comum. Investir em educação é garantir uma sociedade mais justa e igualitária. E, dentro desse contexto, um projeto de país não pode prescindir de valorizar as universidades públicas federais, que, em tempos de obscurantismo, se transformaram em um bastião de resistência contra os ataques orquestrados pelo reacionarismo e pelos que querem manter os privilégios de uma pequena casta, uma elite retrógrada e antibrasileira.

O Brasil voltou, mas os inimigos da educação superior pública e de qualidade não descansam. Isso fica evidente quando vemos os cortes orçamentários que assolam as universidades federais brasileiras. Aqui em Pernambuco, não é diferente, e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), melhor instituição de ensino superior federal do Nordeste, a casa da Adufepe, é alvo de constantes ataques.

Numa conta simplificada, a verdade nua e crua: se em 2014, o orçamento da UFPE foi de pouco mais de R$ 213 milhões, o que está previsto para esse ano são apenas R$ 155 milhões. É muito pouco para uma instituição que tem mais de 43 mil estudantes na graduação e na pós-graduação, mais de 3 mil docentes e quase 4 mil técnicos-administrativos. A conta não fecha. E quem sai perdendo é a sociedade.

O mesmo acontece com as outras universidades federais de Pernambuco. A redução orçamentária de 2014 para cá, juntando UFPE, UFRPE, Univasf e Ufape, foi de mais de R$ 128 milhões - isso sem contar a inflação. Quando corrigimos os valores, constatamos que o percentual de redução foi de 61,23%. Mais uma vez: é a sociedade quem perde com isso.

Desde o dia 22 de abril, a nossa categoria está em greve. E não paralisamos as atividades apenas por uma questão de reajuste salarial - é óbvio que é uma questão essencial, já que, desde 2014, tivemos apenas um aumento, no ano passado, mas que não foi suficiente para cobrir as perdas, que chegam a 22%. Nós entendemos que não podemos aceitar redução no orçamento da casa. Tivemos anos muito difíceis, entre 2019 e 2022, houve uma melhora no ano passado, mas não dá para manter uma instituição do porte da UFPE com esses parcos recursos que o Ministério da Economia disponibilizou na Lei Orçamentárias Anual (LOA). É a máxima do lençol curto: para cobrir a cabeça, descobre-se os pés.

O impacto que os cortes de recursos causou nos últimos 10 anos é imensurável. Atingiu a questão da manutenção dos prédios, das condições de trabalho, da assistência estudantil. Sem falar nas atividades de pesquisa e extensão, que têm sido afetadas fortemente e que, caso não haja a recomposição orçamentária aos moldes de 2014, podem ser paralisadas. E, repito: quem sai perdendo é a sociedade.

Por isso, perseveramos na tentativa de diálogo, porque, ao contrário do anterior, este é um governo que foi eleito com a promessa de avançar em vários setores, inclusive a educação. Temos buscado apoio em diversas instâncias porque entendemos que é nosso papel estar na linha de frente da defesa da educação superior pública e de qualidade. Não vamos descansar até conseguirmos o que nós propomos. Até porque, quando a universidade é atacada, a sociedade também o é.