A polêmica do acarajé Baianas e entidades negras criticam uso do nome da iguaria em operação da Lava-Jato pela Polícia Federal no Paraná

Publicação: 26/02/2016 03:00

Para entidades baianas, o acarajé, mais do que uma simples comida, é uma oferenda (ELOI CORREA/GOVBA)
Para entidades baianas, o acarajé, mais do que uma simples comida, é uma oferenda
As operações da Polícia Federal, além da repercussão pela investigação e prisões, ganham fama também por conta dos nomes inusitados. Dessa vez, a 23ª fase da Lava-Jato, batizada de Operação Acarajé, gerou revolta entre os movimentos negros da Bahia e as baianas do acarajé. Se para alguns o famoso alimento é apenas uma iguaria, para os adeptos do candomblé é uma comida ritual para a orixá Iansã.

“Não é simplesmente vender acarajé. Tem um ritual, a hierarquia da família, a história do acarajé. Porque todas as baianas do acarajé são filhas de Iansã, porque ninguém trabalha com o acarajé à toa”, explicou a baiana Dulcimari de Jesus.

De acordo com a PF, o nome foi escolhido em alusão ao termo utilizado por alguns investigados dessa fase para nominar o dinheiro em espécie envolvido no esquema de corrupção. A coordenadora da Associação Nacional das Baianas de Acarajé (Abam), Rita Santos, considerou a a associação do termo a um assunto negativo uma ofensa à tradição religiosa. “Foi difícil de ver a associação de uma oferenda de um orixá a um grupo de ladrões. Não vai ter impacto na hora de a baiana vender, mas vai haver (impacto) no mundo todo, porque sempre que se falar em acarajé, as pessoas vão ligar uma coisa à outra”, avaliou.

A organização não-governamental Coletivo Entidades Negras publicou nota de repúdio contra o uso do nome acarajé para a operação. Na nota, a organização alega que “nada justifica a escolha deste nome para a operação” e pondera que o acarajé “é alimento sagrado para as pessoas que, em todos o país, cultuam os orixás”. A entidade diz que a escolha da PF demonstra “total desrespeito religioso a um elemento sagrado do candomblé, desrespeitando toda a tradição e história da religião no Brasil”.

A entidade ingressou no Ministério Público com um pedido de mudança no nome da operação. “Estamos fazendo o diálogo com o MP, para essa mudança no nome (da operação), por compreender o nosso valor histórico, por compreender o valor da mulher e a ligação com o acarajé que, para a gente, é uma iguaria muito importante, também. Mas, sobretudo, retrata a resistência das mulheres negras”, explicou o diretor do Coletivo, Adailton Borges. (ABr)