Ciência perde Elon Lages Lima Considerado um dos maiores professores e pesquisadores de matemática do país, alagoano faleceu no Rio, aos 87 anos. Sepultamento será hoje

Publicação: 08/05/2017 03:00

Referência, Lima deixou legado de mais de 40 livros de literatura matemática (REPRODUÇÃO/INTERNET)
Referência, Lima deixou legado de mais de 40 livros de literatura matemática

Um dos mais conceituados autores de livros de matemática do país, o professor Elon Lages Lima faleceu ontem, aos 87 anos, no Rio de Janeiro. Nascido em Maceió (Alagoas), o docente tinha em sua essência o conceito de que a sala de aula era dotada de um efeito transformador, e usou a matemática como esse instrumento. Elon era casado com Carolina Celano e tinha cinco filhas da primeira união, com Valdece. O velório será hoje a partir das 9h e o enterro às 16h, no Cemitério da Penitência, no Caju, no Rio de Janeiro.

Filho de Manoel de Albuquerque Lima e Adelaide Lages Lima, Elon iniciou sua carreira como professor no Ginásio Farias Brito e depois no Colégio Estadual do Ceará, em cujo corpo docente foi admitido por concurso no qual obteve o primeiro lugar, aos 19 anos. Fez os dois primeiros anos da licenciatura em matemática na Faculdade Católica de Filosofia do Ceará. Com uma bolsa de estudos do CNPq, transferiu-se em 1952 para a Universidade do Brasil, onde obteve o Bacharelado em matemática em dezembro de 1953.

Logo após sua chegada ao Rio de Janeiro, presenciou a fundação do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), criado em torno das figuras de Leopoldo Nachbin e Maurício Matos Peixoto. Por influência do primeiro, orientou seus estudos para a análise funcional. Em 1954 foi admitido na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, onde obteve o grau de mestre em 1955 e de doutor em 1958, com uma tese sobre topologia algébrica, sob a orientação de Edwin Spanier. Nesse trabalho, introduziu a noção de espectro de espaço topológico, que hoje se constitui uma das ideias avançadas mais fundamentais para a pesquisa na área.

Regressando ao Brasil, foi admitido como pesquisador do Impa, mas manteve seu interesse pelo desenvolvimento da matemática na Universidade Federal do Ceará, tendo colaborado com a organização da licenciatura, do bacharelado e posteriormente da pós-graduação. Em reconhecimento, a UFC lhe concedeu o título de professor honoris causa. De 1962 a 1964 desfrutou de uma bolsa Guggenheim, primeiro no Institute for Advanced Study em Princeton e depois na Columbia University em New York, ambos nos EUA.

Participou da fase inicial da Universidade de Brasília, mas pediu demissão em 1965, seguindo pouco depois para os Estados Unidos. Em 1968 voltou para o Impa, onde já havia ocupado o cargo de vice-diretor por mais de uma década e diretor em três ocasiões.

Sua contribuição à literatura matemática brasileira foi essencial, com mais de 40 livros. Recebeu duas vezes o Prêmio Jabuti de Ciências Exatas, da Câmara Brasileira do Livro. Também desempenhou o papel de mentor e inspirador de jovens matemáticos de grande destaque no país, como Artur Ávila, ganhador da Medalha Fields, além de Carlos Gustavo Moreira, Ralph Teixeira e Nicolau Saldanha, entre outros.

“Eu era aluno de graduação, em Portugal, quando ouvi falar de Elon pela primeira vez, por meio de seus livros. Ninguém, nos dois países, contribuiu como ele para a criação de uma literatura matemática em língua portuguesa”, afirmou o diretor-geral do Impa, Marcelo Viana. Para o ex-diretor do instituto, Jacob Palis, Elon “foi um excelente matemático, escritor e didata”. “Ele deu uma contribuição muito grande ao Impa, integrando um grupo pequeno e de alta qualidade”, afirmou.