Pobreza continua crescendo no país Na prática, cerca de um quarto da população brasileira (26,5%) vive com menos de R$ 406 por mês por pessoa de renda domiciliar, segundo dados do IBGE

Publicação: 06/12/2018 03:00

Mesmo com o fim da recessão, a pobreza continuou crescendo no ano passado. De 2016 para 2017, 1,969 milhão de pessoas passaram para baixo da linha de pobreza do Banco Mundial, revelou ontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Conforme a pesquisa Síntese de Indicadores Sociais (SIS) 2018, 54,8 milhões de brasileiros estavam abaixo dessa faixa, ou seja, viviam com menos de R$ 406 por mês por pessoa de renda domiciliar.

Na prática, cerca de um quarto da população (26,5%) está abaixo da linha de pobreza do Banco Mundial, que, para países com renda média-alta, como o Brasil, considera a referência de US$ 5,50 por dia por pessoa - em valores de 2011, atualizados pela inflação na pesquisa do IBGE. Em 2016, 52,8 milhões de brasileiros, ou 25,7% da população, estavam nessas condições. Na passagem de 2016 para 2017, o contingente de pobres cresceu 3,7%

Segundo André Simões, gerente de Indicadores Sociais do IBGE, a pobreza cresceu por causa da deterioração do mercado de trabalho. Mesmo com o fim da recessão, a economia terminou 2017 com 13,117 milhões de desempregados. Isso impacta na pobreza porque a renda do trabalho responde por 73,8% do total de rendimentos.

Embora a atividade econômica tenha voltado a crescer em 2017, o pesquisador explicou que o crescimento foi maior na “agroindústria”, e o desemprego continuou elevado. Assim, o rendimento médio do trabalho (R$ 2.039 no ano passado) caiu 0,7% ante 2016, mais do que a queda de 0,2% no rendimento médio de todas as fontes (R$ 1.511, incluindo, além do trabalho, aposentadorias, pensões, transferências de renda, etc.).

Liliana Sousa, economista sênior do Banco Mundial para a prática de pobreza e equidade no Brasil, ressaltou ainda que a queda na renda do trabalho entre 2016 e 2017 foi mais acentuada entre os mais pobres, contribuindo para o aumento da pobreza. Segundo ela, entre o grupo dos 10% mais pobres da população, a queda na renda do trabalho em 2017 foi de 18%.

“Outras fontes de renda, incluindo os programas e políticas sociais, não foram suficientes para compensar essa perda. A queda na renda do trabalho reflete o alto crescimento do desemprego no Brasil nos últimos anos”, disse Liliana.
 
Importância das políticas sociais
 
Na visão de Simões, o crescimento da pobreza em momentos de crise mostra a importância das políticas sociais, com foco em redistribuição de renda, mercado de trabalho e no crescimento econômico. “E, claro, as políticas de transferência de renda, que são importantes em momentos de crise. Os países que possuem sistemas de proteção social sólidos, em momentos de crise, estão mais aptos a garantir condições de vida dignas para suas populações”, disse o pesquisador, após apresentar os dados em uma das sedes do IBGE, no Rio.

Os dados do IBGE confirmam também a elevada desigualdade nos dados sobre pobreza. Em termos regionais, 44,8% dos 57 milhões de habitantes do Nordeste estão abaixo da linha de pobreza. São 25,6 milhões de pessoas - a metade do total nacional na condição de pobreza. Enquanto isso, No sul, 12,8% da população de 29,6 milhões está abaixo dessa linha. São 3,8 milhões de pessoas.

A cor da pele também influi: na população de homens de pele preta ou parda, 34,1% estavam abaixo da linha de pobreza, 7,6 pontos porcentuais abaixo da média nacional. Os mais jovens também são mais vulneráveis: na população até 14 anos, 43,4% estão abaixo da linha de pobreza. Quando se considera as pessoas de famílias lideradas por mulheres pretas ou pardas, sem cônjuge, e com filhos até 14 anos, 64,4% estão abaixo da linha de pobreza, proporção quase duas vezes e meia acima da média nacional.

Em nota, a organização internacional de combate à pobreza ActionAid, destacou que, nos dados do IBGE, “chamam atenção” os perfis dos brasileiros que vivem abaixo das linhas de pobreza e extrema pobreza, “que são, majoritariamente, mulheres e negros”

Conforme a SIS 2018, o contingente de extremamente pobres também cresceu em 2017, com 1,714 milhão a mais nesse grupo. Eram 15,2 milhões de pessoas, ou 7,4% da população, vivendo abaixo da linha de extrema pobreza do Banco Mundial - US$ 1,90 por dia por pessoa, equivalente a R$ 140 por mês na renda domiciliar por pessoa. Em 2016, eram 13,5 milhões, ou 6,6% da população. (Agência Estado)