O difícil retorno à escola de Suzano Quase uma semana após o massacre na Escola Raul Brasil, alunos e funcionários estiveram ontem na unidade de ensino onde nove pessoas morreram

Publicação: 19/03/2019 03:00

Pela primeira vez, desde o massacre na Escola Estadual Professor Raul Brasil, ocorrido na última quarta-feira, em Suzano (São Paulo), estudantes e funcionários retornaram ontem pela manhã ao colégio. Ainda em choque com o crime, os jovens chegaram ao local em grandes grupos de amigos ou acompanhados dos pais.

O funcionamento da escola estava suspenso desde a última quarta-feira, quando dois ex-alunos, de 17 e 25 anos, entraram na escola encapuzados e armados, promovendo um ataque que resultou na morte de oito pessoas. Os atiradores se mataram após a ação.

Thales Fernandes, de 20 anos, foi buscar a bicicleta que tinha sido abandonada no dia em que ele fugia dos atiradores. Com os olhos marejados, ele e outros cinco amigos se apressavam para sair logo do local. "Me trouxe muitas lembranças. Entrar ali foi como rever aquele dia. Não sei quanto tempo vai demorar para essas memórias irem embora, mas queria me livrar delas", contou

Fernandes diz que vai se esforçar para continuar frequentando as aulas e terminar o 3º ano do Ensino Médio. Já seu colega Ryan dos Santos, de 18 anos, diz que, depois de rever a escola nesta segunda, não quer mais retornar. "Vou parar de estudar por um tempo. Não vai ter como. Entrei lá e só queria ir embora. Vou ter medo disso acontecer em outra escola também, então devo parar por um tempo", disse.

Os alunos receberam uma rosa branca com uma mensagem de apoio, assinada pela dirigente regional. Alguns deixaram a flor no memorial dedicado às vítimas.

A Escola Estadual Raul Brasil vai oferecer auxílio psicológico durante esta semana aos funcionários, alunos e familiares das vítimas. Os atendimentos podem ser individuais ou coletivos. Os funcionários que desejaram passar por atendimento psicológico foram ao local ontem. O segundo dia, esta terça-feira, é voltado para o atendimento aos alunos, enquanto o cronograma de amanhã está voltado para a comunidade. Não haverá atividade obrigatória para os professores e alunos.

No fim da tarde de ontem, o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer, presidiu missa na Catedral da Sé em memória dos mortos no ataque à escola. Dom Odilo fez uma reflexão sobre os motivos que podem ter levado dois jovens a cometer o massacre e destacou a presença do “vírus” da violência e do ódio no convívio social. “A sociedade está doente. Está doente de violência; o vírus da violência tomou conta. Está doente de ódio. O bacilo da violência pega. O ódio é contagiante. A sociedade está doente de desprezo pela dignidade do próximo e de si mesmo. Perdeu o rumo, os valores a partir dos quais é possível edificar a convivência, a paz, o respeito, e a dignidade”, disse. Uma missa de sétimo dia pelos mortos será celebrada hoje em Suzano. (Agência Brasil)