Barragem se rompeu por acúmulo de água Causas da tragédia de Brumadinho são apontadas por relatório divulgado pela mineradora Vale

Publicação: 13/12/2019 03:00

O rompimento da barragem I da mina do Córrego do Feijão, em 25 de janeiro deste ano, que deixou 270 mortos e desaparecidos em Brumadinho (MG), foi causado por acúmulo de água e falta de drenagem, o que provocou um fenômeno denominado “liquefação estática”, segundo relatório de especialistas contratados pela mineradora Vale, proprietária da mina, publicado ontem.

O grupo de especialistas “constatou que o rompimento e o deslizamento de lamas dele resultante decorreram da liquefação estática dos rejeitos da barragem”, ou seja, os rejeitos se transformaram em lama pelo acúmulo de água, informa o relatório.

O colapso da barragem liberou milhões de toneladas de rejeitos em questão de segundos. A busca de cadáveres continua até hoje, com um saldo de 257 mortos e 13 desaparecidos. A avalanche de rejeitos percorreu mais de 600 km pelo Rio Doce e seus afluentes até desembocar no Oceano Atlântico, na pior catástrofe ambiental do Brasil.

Segundo o relatório, assinado pelos pesquisadores Peter K. Robertson, Lucas de Melo, David J. Williams e G. Ward Wilson, a barragem tinha “drenagem insuficiente” e acumulou água em plena época de chuvas, o que fez com que se enchesse de rejeitos “fofos” e “pesados”, por seu alto conteúdo de ferro. A pressão gerou então uma “barragem marginalmente estável”, ou seja “perto do rompimento em condições não drenadas”.

No entanto, o texto aponta que a barragem “não mostrou sinais de instabilidade, como grandes deformações que gerassem rachaduras e abaulamentos, antes do rompimento”. Embora a análise de dados posterior tenha identificado “pequenas deformações nos 12 meses anteriores ao rompimento”, tratavam-se de deformações “pequenas e lentas demais para serem detectadas pelo radar de solo e pelos outros dispositivos de monitoramento”, acrescenta.

Em síntese, diz o relatório: “A combinação de uma barragem íngreme construída a montante [alteada sobre ela própria], alto nível de água, rejeitos finos fracos dentro da barragem e a natureza frágil dos rejeitos gerou as condições para o rompimento.” O alto nível de água está relacionado à forte precipitação no período chuvoso, de outubro de 2018 em diante, que fez com que a estrutura perdesse sucção, tornando os materiais menos resistentes.

“Com base nos documentos analisados, está claro que os consultores [da Vale] sabiam do alto nível de água e do risco disso”, mas estavam tomando as ações necessárias “com base nas evidências que eles tinham”, afirmou Robertson.

TREMOR

O estudo descartou gatilhos humanos ou sísmicos para o rompimento. Não houve tremor de terra no dia do acidente, segundo o relatório. Houve detonações em minas a céu aberto na área, mas nenhuma que fosse registrada pelo sismógrafo (medidor) mais próximo à barragem antes do rompimento — houve uma naquele dia, mas minutos após a estrutura se romper, segundo Robertson.

Entre outubro de 2018 e o fim de janeiro, quando a barragem se rompeu, a Vale fez nove furos de sondagem na estrutura, para instalar inclinômetros e piezômetros (medidores de pressão). E uma delas estava sendo feito na hora do acidente. A barragem, segundo o painel de especialistas, não mostrou sinais de instabilidade durante essas perfurações. (FP e AFP)