Olhos voltados para a Amazônia O vice-presidente, Hamilton Mourão, prometeu ontem reduzir a um "mínimo aceitável" o desmatamento e os incêndios, mas não anunciou ações práticas

Publicação: 16/07/2020 03:00

O  governo brasileiro se comprometeu ontem a reduzir a um “mínimo aceitável” o desmatamento, e os incêndios na Amazônia, em resposta às críticas recebidas dentro e fora do país em relação a esse assunto desde a chegada de Jair Bolsonaro ao poder. “Vamos buscar reduzir ao mínimo aceitável os índices de desmatamento e queimada, demostrando com isso à comunidade internacional e à sociedade brasileira esse nosso compromisso, e deixando claro que desmatamento zero e desenvolvimento econômico não são excludentes”, declarou o vice-presidente, Hamilton Mourão, que dirige o Conselho Nacional da Amazônia.

Ontem, Mourão liderou uma nova reunião desse órgão, criado em janeiro por Bolsonaro. Na reunião, ele ressaltou “o compromisso firme do governo” com a “preservação e desenvolvimento” da maior floresta tropical do planeta. Segundo dados oficiais, entre janeiro e junho, o desmatamento na Amazônia brasileira registrou um recorde semestral de 3.070 km2, um aumento de 25% em relação ao mesmo período do ano passado. É um novo recorde desde o início dessa série, em 2015.

Em junho, início da estação seca, houve também um aumento de quase 20% das queimadas em relação a junho do último ano, o pior número para esse mês em 13 anos. Trata-se de uma preocupação ambiental e de saúde, pois as nuvens de fumaça causam um aumento de doenças respiratórias, em meio da pandemia do novo coronavírus.

Como resposta ao aumento alarmante dos incêndios no ano passado, o governo brasileiro enviou as Forças Armadas na Amazônia por 60 dias para combater o desmatamento. Este ano, repetiu a operação em maio, sob o nome de Operação Verde Brasil 2 que, segundo Mourão, poderá se estender até o fim do mandato de Bolsonaro, em 31 de dezembro de 2022.

Não apenas as ONGs

As críticas ao aumento do desmatamento apontam para as políticas de Bolsonaro, apoiador de atividades extrativistas e agrícolas em áreas indígenas e áreas protegidas. O presidente atribui o ocorrido a ONGs “globalistas” e aos interesses dos países supostamente empenhados em impedir o desenvolvimento do Brasil. No entanto, nos últimos meses as questões ambientais ganharam espaço na cobertura de economia e negócios.

No final de junho, fundos de investimento na Europa, Ásia e América do Sul, que juntos administram cerca de US$ 4 trilhões em ativos, pediram ao governo Bolsonaro que interrompesse projetos que ameaçassem acelerar a destruição da Amazônia. Depois de se reunir virtualmente com representantes de nove desses fundos na última quinta-feira, Mourão informou eles pediram “resultados” da luta contra o desmatamento antes de discutir sua eventual participação em projetos de proteção ambiental no país.

Grandes exportadores brasileiros também demonstraram preocupação. Ontem foi a vez de 17 ex-ministros brasileiros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central pedirem ao governo uma mudança de rumo. (AFP)