O homem por trás do case chamado IBGM Desde a compra do Radier, Laércio Guerra construiu um verdadeiro "império educacional" na Boa Vista

Bruna Siqueira Campos
bruna.siqueira@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 15/10/2016 09:00

Comparado à média dos executivos de sua área, Laércio Guerra, fundador da Faculdade IBGM, é uma exceção. Uma peça desencaixada no “quebra-cabeças” das instituições tradicionais de ensino superior. Em oito anos, viu suas salas de aula, inicialmente com 54 alunos, comportarem perto de dez mil. Emprega 700 pessoas sem sócios, nunca cedeu aos interesses de fundos de investimento - até da China, garante - e diz não ter a mesma ambição de outras faculdades privadas. Tudo isso em um ramo marcado por inserções na Bovespa e fusões com grupos internacionais.

Recifense do bairro de Casa Amarela, o ex-representante farmacêutico e hoje diretor acadêmico “nasceu” com a compra do colégio e curso Radier, um dos mais tradicionais do Recife. Do endereço na Rua Joaquim Felipe, na Boa Vista, ampliou seus domínios. Comprou novos imóveis para abrigar cursos de graduação e pós na Rua João Fernandes Vieira. Depois expandiu para a rua vizinha Padre Inglês, onde constrói um prédio de 12 pisos e 20 mil m2 no terreno do antigo Sanatório Recife, o último hospital psiquiátrico a funcionar no país, fundado por Ulysses Pernambucano na década de 1930.

Assim como a IBGM, que chama a atenção com suas TVs de LED instaladas nos muros, Laércio está longe de ser um diretor convencional. Aos 40 anos, o administrador pós-graduado em marketing, pai de três filhos, ostenta um visual despojado. Andar de chinelos pelos corredores da faculdade já faz parte de sua identidade, assim como as paredes com letras de música e outros dizeres que limitam o campus. “Você não precisa estar revestido de modelos para dar certo”, defende ele, figura rara nas rodas de empresários do Recife.

“Uma vez estava pintando uma sala, e naquele dia estava acontecendo uma seleção para professor. Um dos candidatos me perguntou onde seria a reunião e pediu um café. Depois ficou surpreso quando descobriu que eu não era o pintor”, diverte-se Laércio ao conversar com o Diario em seu escritório, dois anos após a primeira tentativa de entrevista, numa sala escura que poderia servir de cenário para a série de TV Mad Men.

Tal qual o seriado ambientado numa agência de publicidade dos anos 1960, o lugar tem irreverência: em um canto, vê-se um fliperama. No outro, uma radiola onde repousa um vinil de James Brown e uma garrafa de uísque. “Já nos chamaram de faculdade Facebook”, conta, sem dar muita importância, mas ressaltando o slogan de “faculdade mais diferente do Brasil”. As redes sociais, aliás, são o carro-chefe da comunicação com seu público, formado em 63% por alunos abaixo dos 25 anos.

Questionado sobre a última crise no setor, provocada pelos atrasos nos repasses do Fies, o empresário muda o tom. Ao contrário do que fez a maioria, o dono da IBGM não aderiu ao fundo de financiamento estudantil com o mesmo apetite dos seus concorrentes. “Meu universo, hoje, é 6% de Fies. A maioria do mercado tem acima de 40%. Sempre apostei numa educação de qualidade a baixo custo, mas não acreditava politicamente no programa”, justifica.

Sobre os próximos investimentos, ele mantém a reserva. Diz não ter a intenção de exportar seu modelo educacional para outros estados. Por enquanto, foca no hospital veterinário que vai inaugurar em 2017, com atendimento gratuito. Ainda faz planos como vice-presidente de marketing do Sport Clube do Recife e arranja tempo para um restaurante que abriu na Zona Norte, além das horas dedicadas a tocar tantan. “Já viu um cara que foi da favela não gostar de samba?”, pergunta a esta jornalista antes de entrar numa pick-up Chevrolet cara de sapo, de 1951. Convenções, realmente, não são o seu forte.