Uma carona para o desenvolvimento

Publicação: 14/10/2017 03:00

A diversificação dos setores nos quais a China atua pode favorecer muito Pernambuco e o Nordeste, na avaliação dos agentes que fazem o intermédio Brasil-China. Além disso, o país vem sinalizando economicamente para um ambiente mais favorável. A infraestrutura se credencia como a principal área a receber aportes orientais no Nordeste, mas falta à região um plano de ação que a faça “aparecer” aos olhos estrangeiros.

De acordo com Tulio Cariello, coordenador do CEBC, há inúmeras áreas que poderiam se beneficiar com a chegada de investimentos em Pernambuco e no Nordeste. “Projetos de investimento na área de infraestrutura, sobretudo no que diz respeito ao escoamento de produtos referentes ao volumoso comércio bilateral entre os dois países devem beneficiar muito a região. Isso poderia reduzir custos e dinamizar as relações comerciais. Além disso, a região tem enorme potencial e vocação natural para receber projetos de energias renováveis, sobretudo investimentos em energia solar e eólica, setores em que os chineses têm grande expertise e são líderes mundiais”, antecipa.

No tempo que trata intermediando o diálogo entre países, o presidente da CCIBC, Charles Tang, destaca que a China tem visão estratégica sobre o país e tem certeza de que o Brasil é rico, mas que se penalizava por problemas burocráticos. “Com esse novo cenário, com os ativos em bom preço e abrindo mercado para a chegada de empresas estrangeiras, nossa disposição aumenta para investir. Agora está muito diferente de quatro anos, por exemplo, quando não se tinha espaço para empresas de fora investirem em infraestrutura, porque estava protegido para empresas locais. Hoje, essas não conseguem entregar as obras, não conseguem começar os projetos e estão enforcadas economicamente”.

Segundo Tang, a burocracia é uma das principais amarras que faz o Brasil não abandonar a zona de atraso. “O governo atual tem sinalizado para destravar isso, com reformas como a trabalhista e tributária, e se livrando dos entraves que se formaram nos últimos anos e que fazem o país não ser um business friendly (termo para definir que o local oferece um bom ambiente para negócios)”.

Outro ajuste necessário ao mercado é maior atuação dos brasileiros e nordestinos na venda das possibilidades de negócios para os chineses. “Tenho observado que, nos últimos anos, alguns governos estaduais da região Nordeste têm recebido delegações chinesas em busca de potenciais parcerias. Creio que isso já é um bom começo. Ainda assim, é primordial que haja maior exposição do Nordeste para prováveis investidores chineses, de forma a fazê-los conhecer o potencial da região. Nesse sentido, creio que os interessados em receber investimentos chineses deveriam ter um papel mais ativo na relação com os asiáticos. A relação comercial e de investimentos entre os dois países é ditada quase que exclusivamente pelo lado chinês. Seria um grande ganho para o Nordeste e Brasil se houvesse maior protagonismo do país na relação bilateral”, aponta Cariello.

Em setembro, uma comitiva pernambucana desembarcou na China com esse propósito. Leonardo Cerquinho, presidente da Agência de desenvolvimento econômico de Pernambuco (AD Diper), participou da visita e apresentou a carteira de setores que podem receber os aportes chineses. “A gente mostrou as áreas de infraestrutura, da qual citamos o miniarco e o Arco Metropolitano. Citamos o terminal de contêineres de Suape, o pátio de veículos, além da área de energia renovável”, destaca. Apesar de não poder adiantar o que está avançando, Cerquinho se mostrou otimista. “Os orientais são criteriosos, avaliam bastante, têm tempo de negociação e estudo, mas decidem. E quando decidem, apostam alto”. (De André Clemente)