ECONOMIA » Educação a distância no quadro de estratégias Com a redução do Fies e a crise no orçamento familiar, os cursos superiores das instituições privadas por meio da modalidade a distância ficaram mais atrativos por possuir um tíquete médio mais vantajoso

Publicação: 21/07/2018 03:00

OBrasil mostrou nos últimos anos que um problema conjuntural pode revelar necessidades. Na educação tem sido assim. Com a redução do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) e a crise no orçamento familiar, os cursos superiores das instituições privadas por meio da modalidade a distância ficaram mais atrativos por, historicamente, possuir um tíquete médio mais vantajoso ao aluno. A questão avançou quando o estudante mostrou que as tecnologias precisam ser mais que “acessórios” da educação superior. Tanto que as universidades que ainda não implantaram uma estrutura de Educação a Distância (EAD) têm a modalidade no seu horizonte. Pernambuco, inclusive, além de três faculdades que possuem o modelo com conteúdo próprio, vem recebendo polos e terceirizando a oferta de cursos por aqui. A EAD, portanto, deixa de ser uma solução de custo para se tornar uma escolha do aluno, que não aceita mais “aquelas 20 páginas de livros na copiadora”. Depois do panorama da educação superior privada apresentada na última edição do Diario, o segundo dia da série Desafio Universitário vai mostrar como a EAD tem sido colocada na pauta das instituições como uma estratégia de negócio, muito além de um simples tratamento para a crise.
Números do Ministério da Educação (MEC) mostram que a EAD elevou em 290% o número de matrículas na última década, encerrada em 2016 (último censo), e projeta para daqui a cinco anos a grande virada, quando o Brasil terá mais alunos matriculados na modalidade a distância no comparativo ao modelo de cursos presenciais.
De acordo com o professor George Bento, coordenador da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed) e que responde pelos cursos a distância da Faculdade de Olinda (Focca) e Faculdade São Miguel (FSM), a velocidade da introdução de tecnologias na educação é mais lenta. “De todas as revoluções tecnológicas, a educação é uma das últimas beneficiadas”, explica.
Segundo ele, o que se debate hoje é que o foco do ensino sai do professor à frente de um tradicional quadro para um modelo no qual o estudante é o elemento central da aprendizagem, dentro de um processo de metodologias ativas. “A responsabilidade de aprender é do aluno. O professor media, ajuda, mas a responsabilidade é do aluno. Essa geração não aceita ter que ler 20 páginas de um livro na copiadora e só. As informações estão em todos os lugares, no celular, numa reportagem, num post de rede social. É a reinvenção do papel do professor, que já tem experiência, mas precisa de multimeios didáticos ou então vai ter dificuldade com esses estudantes”, explica.
É nesse contexto que surge a educação a distância. “Nome, inclusive, que não nos favorece”, observa o professor. “Traz preconceito por ser ter a base nos cursos por correspondência, mas o online de hoje não tem nada de distante. Eu estou o tempo todo acessível, interação completa nos fóruns, nos e-mail e plataformas de comunicação do ambiente virtual. Como posso estar distante?”, questiona.
Tanto é que a média de idade das pessoas que aderem ao modelo de EAD para fazer graduação é de 31 anos a 40 anos, maior que a do presencial, geralmente realizado por recém-formados no ensino médio.