Inovação & Negócios

Por Francisco Saboya
chicosaboya@gmail.com

Publicação: 07/07/2018 09:00

Dá pra medir a inovação?

O Jornal Valor Econômico publicou nesta semana um ranking de empresas mais inovadoras do país, resultado de estudo feito em parceria com a unidade de consultoria estratégica da PricewaterhouseCoopers. Ganhou pelo terceiro ano consecutivo a Embraer, empresa brasileira do setor aeroespacial. Há poucos dias, foi anunciada a formalização de acordo de sociedade com a Boeing. Analistas de mercado sugerem que parte do interesse do gigante global derive do capital de conhecimento aplicado (isto é, inovação) da empresa sediada em São José dos Campos. O difícil nessas horas é saber exatamente como se mede a inovação. Afinal, o assunto é demasiadamente sério para ser baseado apenas em visões impressionistas. Já dissemos aqui que inovar custa muito caro. Então, como mensurar o montante de investimento que uma empresa faz nesse campo? Existem modelos internacionalmente convencionados que permitem a geração e comparação de indicadores estatísticos entre países. Baseado neles, o IBGE aplica, a cada três anos, uma pesquisa chamada PINTEC, cujo objetivo é fornecer um panorama da inovação no setor produtivo nacional, com recortes de setores da indústria e serviços selecionados.

A estimativa de dispêndio total em inovação considera o volume gasto anualmente em oito atividades específicas. Elas vão desde os gastos diretos em pesquisa e desenvolvimento realizados em laboratórios internos das companhias até, no extremo oposto, aqueles efetuados com instalações e treinamento para que a inovação, seja ela desenvolvida ou adquirida de terceiros, seja incorporada no processo produtivo da empresa. Pronto. Aí se encerram os dispêndios com inovação. No meio desse leque de atividades, encontra-se a aquisição de novas máquinas e equipamentos. Isso também é inovação. Aliás, de acordo com a pesquisa PINTEC, ela é a forma mais usual de introdução de inovação no tecido produtivo nacional, consumindo cerca de metade do orçamento em pesquisa, desenvolvimento e inovação das empresas inovadoras selecionadas. Quem não desenvolve, compra. Isso não é necessariamente mau, é importante que se diga. Nenhum país é autosuficiente quando se trata do balanço de conhecimento. O resto do mundo, somado, sempre será maior do que a maior das potências científicas e tecnológicas. Mas também não precisa ser tão débil quanto o Brasil. Falamos rapidamente desse assunto no artigo anterior e certamente voltaremos a falar em outros, inclusive porque um solitário leitor já me cobrou um desenvolvimento mais aprofundado do tema inovação tecnológica e balança comercial.

Mas, voltando à mensuração dos gastos em inovação, a pesquisa afere e consolida o quanto as empresas aportaram em cada uma dessas oito atividades inovativas referidas. Mas, se inovação consiste na incorporação contínua e sustentada de novos conhecimentos no fluxo de negócios das empresas e organizações, principalmente sob forma de novos produtos, processos ou serviços, então uma das métricas da inovação é exatamente a quantidade de soluções novas que se introduz no mercado para atender a necessidades relevantes da sociedade. Uma empresa que não lança novos produtos ou que não oferece novos serviços ou processos, incluindo aí modelos de negócios inovadores – uma das características marcantes do universo das startups - tende a ficar obsoleta e desaparecer do mapa, por maior que seja. É aí onde a gente pode começar a entender melhor o case da Embraer. Como dito acima, uma das razões apontadas pela pesquisa do Valor Econômico consiste no fato de que a Embraer gasta aproximadamente 10% do seu faturamento de U$ 6 bilhões anuais em pesquisa e desenvolvimento. Como consequência, cerca de 50% da receita da companhia hoje deriva de produtos e serviços criados nos últimos 5 anos, destacando-se, segundo a matéria do jornal, a operação de uma família inteira de jatos de passageiros, a E2.

A dobradinha Boeing-Embraer é aquilo que o jargão popular costuma chamar de coisa de cachorro grande. Mas esse mesmo movimento também ocorre em contextos locais, de menor porte e em outros setores da atividade econômica. Dando agora um corte para a realidade pernambucana, me veio à cabeça o modelo de crescimento adotado pela Avantia – Tecnologia e Segurança. A Avantia é uma empresa de engenharia e sistemas de tecnologia da informação que faz parte do ecossistema empreendedor do Porto Digital. Em conversa recente com um dos sócios-diretores, Silvio Aragão, ele exibiu números eloquentes. A empresa investe cerca de 4% do seu faturamento em Pesquisa e Desenvolvimento. A criação da unidade interna de P&D há poucos anos resultou em vários novos produtos para análise inteligente de vídeo e de áudio e integração de múltiplas tecnologias para segurança, permitindo o gerenciamento remoto, em tempo real, de situações anômalas a partir de uma central de comando e controle sediada no Recife. O mais interessante dessa estratégia é que ela vem dando certo: considerando-se apenas os seis novos produtos desenvolvidos nos últimos dois ou três anos, baseados no uso de inteligência artificial para, por exemplo, possibilitar a identificação de invasão de perímetro, aglomeração de pessoas, detecção de situações de violência, identificação de objetos retirados ou deixados em um determinado ambiente, entre outros, as inovações já representam 15% do faturamento. A expectativa, segundo Aragão, é que, em três anos, essa suíte de algoritmos de inteligência artificial venha a representar 40% do faturamento total da empresa. Alguma dúvida de que inovação é negócio? (Se o leitor tiver alguma ideia para a coluna, pode enviar seus comments para chicosaboya@gmail.com)