DIARIO NOS BIARROS » Muito mais que uma compra As lojas de rua na Zona Norte do Recife são espaços de convivência de clientes, que muitas vezes têm um atendimento personalizado

Publicação: 10/08/2018 03:00

O varejo é um segmento que integra vários subsetores. E cada tipo de operação tem um modelo ideal de loja. Muitas marcas escolhem a demanda certa de shoppings, outras se mantêm funcionando em unidades de rua. Na Zona Norte do Recife, algumas se mantêm, inclusive, sem qualquer interesse em sair da rua. O argumento que sustenta o negócio é que essas unidades são a extensão das casas das pessoas, o que quebra a relação dura e simples da compra e venda do varejo tradicional. As unidades do tipo permitem proximidade, atendimento mais íntimo, personalizado e com ambientação que ajuda a transformar a atmosfera em algo familiar.

A estilista e proprietária da boutique Refazenda, nos Aflitos, Magna Coeli Donato, possui loja de rua há quase 30 anos e explica que esse conceito, de fato, aproxima, principalmente se for em bairro onde você costuma circular. “Passa a ser um prolongamento da sua vida. E a gente faz de tudo para que essa extensão seja a melhor experiência possível. Cria-se um relacionamento com o cliente que é um ganho para fidelizar. Todas as grandes marcas que começaram nesse formato e migraram para shopping afirmam que, ao mudar, perderam esse tipo de relacionamento”, pontua.

Segundo ela, as clientes são conhecidas pelo nome e ela sabe exatamente o que cada uma gosta. “É um relacionamento mesmo. A gente recebe as pessoas, algumas vão para tomar um café, degustar algum lanche, conversar. É a continuidade de casa. Até a arquitetura de ser em uma casa também ajuda”, garante. “Que shopping vai provocar a sensação de estar em casa, com jardim, estacionamento e espaços de estar?”, questiona.

Também no segmento de moda, a empresária Danielle Vilaça, da loja Micas, reforça que a atenção com o cliente é algo que operações de rua têm vantagem. “Eu já tive loja de rua e shopping e é bem diferente, principalmente pela questão de espaço. A amplitude dá um conforto que se torna atenção. Eu tenho, por exemplo, clientes que vêm tomar café diariamente, todas sabem que nas quartas-feiras e sextas-feiras aqui têm um bolinho diferente. Tudo que faço é possível porque eu sei que as clientes criaram uma proximidade com a loja. Em shopping, eu era mais uma na oferta”, explica.

Segundo Danielle, a mãe está no mercado há 50 anos e ela, há 25 anos, tempo suficiente para ter uma relação com a clientela que vai além da fidelização. “Nossa operação é montada em função dos clientes. A casa é grande, com estacionamento amplo, a gente liga para elas para que passem uma tarde na loja. As minhas compras, inclusive, são pensando nas clientes individualmente. Quando eu viajo para fora do país para comprar, eu levo para a loja itens individuais e direcionados, por saber o que elas gostam. Quero que elas se sintam prestigiadas”, pontua.

Além do varejo, as unidades de rua também são opção para operação de restaurantes, principalmente pela atmosfera que quer causar no ambiente. Adriana Alliz, empresária e artista plástica à frente do bistrô Modigliani, em Apipucos, escolheu uma casa tombada para reforçar ainda mais o seu relacionamento com clientes, com a boa gastronomia e com a sua arte. “A casa, além do bistrô, é o meu ateliê. É onde eu faço minhas exposições, convido outros artistas para mostrar os trabalhos. É outro esquema. Nunca poderia fazer em outro lugar. Tinha que ser em uma casa”, destaca.

Para ela, os bairros precisam se resolver. “Eu tinha o ateliê e moro em Casa Forte. Então quando fui empreender, escolhi ficar pela Zona Norte, porque eu acho que as pessoas têm mesmo que ter tudo perto de casa. As pessoas ficaram bairristas mesmo, porque não faz mais sentido cruzar a cidade para lazer ou qualquer outra necessidade. E eu entendi e entendo isso”, pontuou.