Pecém na rota dos holandeses Maior porto da Europa, Roterdã deve fechar acordo com o equipamento cearense com desembolso de 75 milhões de euros

Publicação: 22/09/2018 03:00

Roterdã (Holanda) – Assim que as eleições passarem, o governo do estado do Ceará e a autoridade do porto de Roterdã, na Holanda, deverão bater o martelo e assinar um acordo no valor de 75 milhões de euros. Segundo a negociação, a expectativa é de que a operadora holandesa possa tomar decisões estratégicas e ocupe posição na gestão do negócio, tanto na diretoria executiva, quanto no conselho fiscal e cargos gerenciais. Além, é claro, de ter em mãos 30% de participação no negócio.

O porto tem 70% de participação do município de Roterdã e por volta de 30% do governo holandês. Porta de entrada e saída de mercadorias no continente europeu, só no primeiro semestre de 2018 passaram pela área 232,8 milhões de toneladas. São 45 quilômetros de extensão no que é considerado o maior porto da Europa e o 12º do mundo. É por lá que passam as exportações das principais commodities brasileiras negociadas com o continente europeu, como proteína animal, café e suco de laranja.

A etapa seguinte do acordo será o detalhamento da participação dos holandeses no negócio. Segundo Allard Castelei, CEO do porto de Roterdã, a parceria é promissora. “Nossa participação no porto brasileiro de Pecém é promissora para todas as partes. Temos trabalhado como assessores de Pecém há vários anos. Este investimento intensificará ainda mais a parceria. Estaremos trabalhando com o estado do Ceará para garantir que Pecém se torne o futuro centro logístico e comercial do Nordeste do Brasil”, informou o executivo por meio de nota.

Claro que não foram as belas praias do Ceará que chamaram a atenção dos holandeses, mas sim o potencial que o negócio representa. A expectativa do porto de Roterdã é transformar Pecém (a 54,1 quilômetros de Fortaleza) em uma ligação mais curta e mais eficiente entre as mercadorias importadas e exportadas por europeus e brasileiros, com o Nordeste como referência. O local é próximo do Golfo do México e do Canal do Panamá.

Por meio de nota, o porto de Roterdã informou que há um investimento na área de estratégia internacional para identificar países com crescimento potencial em operações portuárias, e o Brasil foi apontado como um deles.

Por enquanto, a operadora conta apenas com dois projetos no Brasil como parte do portfólio. “Operações portuárias eficientes só podem acontecer quando outras infraestruturas brasileiras, como a acessibilidade no interior, é bem desenvolvida também. Essa é a razão pela qual o projeto do Porto de Roterdã pode ajudar a incrementar a infraestrutura brasileira, mas os portos sempre precisarão de investimentos público em acesso a estradas e ferrovias, além de navegação interna, quando possível”, explica.

CRÍTICA
Ainda de acordo com a direção do porto de Roterdã, um dos problemas do Brasil é que, em comparação com a Holanda, seus planos são mais focados no curto prazo, apesar de as operações portuárias terem justamente uma característica contrária, de longo prazo.

A primeira operação da Autoridade do Porto de Roterdã no Brasil começou em 2014, a partir da assinatura de uma joint-venture com a TPL Logística (do Grupo Polimix, produtor brasileiro de concreto, é o principal acionista) para o desenvolvimento do Projeto Porto Central, no Espírito Santo, de capital privado. O complexo portuário industrial, feito a partir do zero, foi desenhado para ser polivalente, atendendo a diferentes tipos de indústrias, como a de petróleo e gás, contêineres, mineração e agronegócio. A operação foi montada para que a estrutura sirva como entrada para a América do Sul e um centro global de transbordo e distribuição.

Por conta do atraso na liberação de licenças, em especial as ambientais, o projeto, que ocupará um espaço em Presidente Kennedy, ainda não está em operação. No ano passado, o presidente Michel Temer (MDB) assinou decreto que deu ao Porto Central o status de utilidade pública. Com isso, foi possível tirar parte da vegetação no entorno para que a construção fosse iniciada. A licença do Ibama para o início das obras só foi dada em março. A estimativa é de que o projeto do Porto Central absorva cerca de R$ 3 bilhões de investimentos. (Do Estado de Minas)