Análise setorial

por Tiago Monteiro
economista e professor do Cedepe Business School

Publicação: 17/11/2018 03:00

Comércio à vista!

A maior crise econômica da história do nosso jovem país começa a dar sinais de arrefecimento e alguns indicadores trafegam em vias mais positivas do que negativas, incluindo o varejo.

Após o caótico biênio 2015/16, onde o PIB caiu 7,4%; o varejo retrocedeu 10,5%; o desemprego saltou dos 4,8% para a casa dos 11,5%; e mais de 340 mil empresas foram fechadas, com mais de 76% dessas voltadas ao segmento comercial; o varejo brasileiro deve fechar o segundo ano consecutivo em alta, com um crescimento girando em torno dos 3,6% frente ao ano passado, que também apresentou um crescimento de 2,1% em comparação ao fatídico ano de 2016.

A grande questão é que, se olharmos pelo retrovisor, estaremos vendo o estranho ano de 2017 se distanciando e quase não veremos mais o ano de 2016, mostrando que esse ano-ponte de 2018 apresenta uma base bem mais sólida e robusta em termos de negócios e projeções futuras do que esses últimos três anos. Mas, mesmo assim, ainda insistimos em olhar para trás e estamos bem apegados as memórias danosas desse nefasto período que nos mostrou na prática, o conceito de crise econômica que já estávamos esquecidos.

O problema é que essas raízes estão inoculadas em um terreno arenoso e sem vida, e isso traz uma incerteza muito grande do quão sólida é essa base da pseudo recuperação que estamos vendo através de uma densa e pesada névoa nos horizontes tupiniquins. E os investidores locais e internacionais são arredios ao risco, atenuando uma recuperação que poderia ser bem mais pulsante e efervescente. Tanto que as projeções estimam crescimentos para a grande maioria dos indicadores (PIB, Indústria, comércio, etc.), mas revisam esses crescimentos semanalmente para baixo, como foi o caso da abertura de novas lojas comerciais neste ano de 2018, passando de uma expectativa de algo em torno dos 20,7 mil novos estabelecimentos, para os 5,2 mil ao final do ano (CNC).

Hoje, o comércio respira sem ajuda de aparelhos e espera uma recuperação plena de sua saúde, ainda este ano, e dois eventos podem ajudar bastante nessa recuperação: a Black Friday e o Natal. Isso deve movimentar bastante o mercado como um todo, desde a intenção de investir e contratar profissionais temporariamente, como a propensão a consumir da sociedade, que deve elevar o seu ticket médio neste final ano, coisa já vista em outras datas importantes para o varejo, como o dia dos pais, o dia das mães e o dia dos namorados. Este final de ano pode sedimentar uma confiança mais robusta, colocando o ano de 2019 aos patamares pré-crise econômica, se pararmos de olhar insistentemente pelo retrovisor.