Observatório econômico

Fernando Dias

Publicação: 10/12/2018 03:00

Piora nos ndicadores sociais
 
Ao longo dos últimos meses diversos indicadores sociais vêm sendo divulgados referentes já ao governo Temer, e quase invariavelmente todos estes indicadores têm sido negativos em relação aos resultados anteriores. Concentração de renda, número de pobres, mortalidade, indicadores educacionais, só para citar alguns, evidenciam que se a economia melhorou ainda que de forma tênue após a saída da presidente Dilma, o mesmo não pode ser dito praticamente nenhum indicador social. Críticos do atual governo, particularmente aqueles que defendem um aludido “golpe”, apontam como causa o abandono do atual governo dos programas sociais que foram implementados ao longo dos governos de Lula e Dilma. Há de fato amplas evidências que a União esqueceu os mais necessitados?
 
Considere-se, por exemplo, o aumento da concentração de renda e, consequentemente, do número de pobres conforme apontado pela PNAD. Embora seja evidente que a distribuição de renda piorou em 2017 o fato é que, em verdade, ela nunca foi razoável em momento algum de nossa história recente. Nós sempre estivemos entre os países com as piores distribuições de renda do mundo, e a forte ação dos programas sociais ao longo dos últimos 20 anos conseguiu mover tenuamente razoável contingente de brasileiros para acima das linhas de pobreza e indigência, não descartando um toque de contabilidade criativa para se fazer isso. O pobre continuou pobre, transitando na margem de uma fronteia abstrata que o classifica entre pobres e não pobres.

O que os dados recentes da PNAD mostraram, de forma contundente, é que as condições que criam a pobreza no Brasil, notadamente na Região Nordeste, não foram afetadas pelos programas de redistribuição de renda. Por mais positivo que seja o fato destes programas auxiliarem em lidar com problema da fome, das secas, das intempéries, ele não cria per si condições para uma dinâmica economicamente sustentável. Em função disto, qualquer elemento que afete negativamente o status quo das relações econômicas existentes pode levar vastos contingentes de volta através da abstrata linha de pobreza. Com efeito, o resultado esperado da recessão de 2015/2016 era uma piora generalizada de todos os indicadores sociais e com aumento da pobreza, conforme agora se verifica.

Mas os indicadores da educação pioraram também. E já vinha piorando desde antes do impeachment. Considerando o tamanho de nosso sistema educacional, o volume de seus investimentos e seus resultados nas avaliações internacionais, é possível dizer que nós temos o pior sistema educacional do mundo, e a maioria sequer tem conhecimento disto. Há inúmeros diagnósticos de porque isto ocorre, indo da forma como organizamos o ensino até discussões pouco significativas como a escola sem partido. O fato, contudo, é que fossemos dar uma nota para o que foi feito, seria um zero com louvor. O desafio aqui é imenso, talvez maior até que na área econômica, pois aqui muitos dos gestores e dos formadores de opinião sequer aceita que há problema em um sistema que forma alfabetizado que não sabe ler, aluno do ensino médio que não sabe multiplicar e graduado que não sabe interpretar.

Considerando o atual estado da economia, e da sociedade brasileira, há pouca dúvida que a piora nos indicadores sociais dos últimos 2 anos se deve basicamente a reflexos da recessão de 2015/2016. É esperado que os mesmos se recuperem as níveis pré-crise nas próximas avaliações, mesmo que isto esteja muito aquém do que pode ser considerado satisfatório. Se o novo governo irá criar condições para termos crescimento sustentável, aí só o tempo dirá, muito embora em termos das expectativas dos mercados os sinais sejam alvissareiros.