WASHINGTON » Irritado com Araújo, agronegócio articula embaixador

Publicação: 18/05/2019 03:00

Irritados com o chanceler Ernesto Araújo, lideranças do agronegócio e parlamentares ligados ao setor passaram a fazer lobby para que o diplomata Pedro Borio seja indicado como novo embaixador do Brasil em Washington. Borio é o cônsul-geral em San Francisco, nos EUA, e sua nomeação para a chefia da missão diplomática brasileira no país representaria uma derrota para Araújo, que tenta emplacar o diplomata Nestor Forster para o posto.

Borio já foi embaixador do Brasil no Sri Lanka e está há três anos no consulado em San Francisco. Nos últimos meses, as alas militar e olavista do governo Jair Bolsonaro vêm travando uma guerra para conseguir emplacar o que é considerado o mais importante posto da diplomacia brasileira no exterior. Incomoda o setor o discurso adotado por Araújo, de criticar os negócios do Brasil com a China e com os países árabes, grandes compradores de produtos brasileiros do agronegócio como grãos e carnes.

O ministro das Relações Exteriores trabalha por Forster, que o apresentou para o escritor Olavo de Carvalho, guru ideológico do governo; os generais, por sua vez, patrocinaram o nome do consultor Murillo de Aragão, mas essa hipótese perdeu força nas últimas semanas.

Enquanto ocorria a queda de braço entre Araújo e militares, Borio passou a correr por fora e tenta se viabilizar como uma terceira via. Em reuniões com parlamentares e integrantes do governo, ele reuniu apoios importantes, como o da Frente Parlamentar da Agropecuária e o da ministra da Agricultura, Tereza Cristina.

A movimentação de Borio no Congresso foi confirmada à reportagem por parlamentares. “Ele conversou comigo. Se dependesse de mim, eu apoiaria”, disse o senador Oriovisto Guimarães (PODE-PR).

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), também vê com bons olhos o nome de Borio e, segundo interlocutores do parlamentar, passou a atuar para fortalecer o diplomata. Alcolumbre travou a indicação de uma série de novos embaixadores ao não ler os nomes desses diplomatas em plenário. A leitura é um passo obrigatório para que eles possam ser sabatinados pela Comissão de Relações Exteriores.

A lista de indicados bloqueados por Alcolumbre chegou a 14 futuros embaixadores, numa ação que atrasa todo o processo de troca de cadeiras no Itamaraty e gera desgaste para o chanceler. Nos últimos dias, o presidente do Senado liberou a leitura de três indicados, mas ainda há mais 11 nomes bloqueados, o que tem gerado incômodo dentro da chancelaria.

Integrantes do governo consideram que, com isso, Alcolumbre trabalha para beneficiar Borio. Apesar da articulação, os parlamentares que apoiam o cônsul-geral em San Francisco afirmam que a definição do futuro embaixador em Washington deve ser uma decisão personalíssima do presidente Bolsonaro. Eles apostam, no entanto, em episódios recentes que geraram desgaste para Araújo, como a disputa de poder dentro da Apex. (Da Folhapress)