"Recife como uma luz muito brilhante" Diretor do Google destacou que se criou "uma aura" que transformou Pernambuco como referência

Luciana Morosini
luciana.morosini@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 24/08/2019 03:00

De 2017 para 2018, o número de startups dobrou no Brasil, ultrapassando a marca das 10 mil empresas. Atualmente, o país conta com 12.668 startups cadastradas, segundo a Associação Brasileira de Startups (ABStartups). Deste número, o Nordeste ocupa a terceira colocação entre as regiões brasileiras, somando 10% dos negócios. Sudeste e Sul ainda dominam o mercado, com 59% e 24%, respectivamente. Apesar da concentração, o ecossistema brasileiro tem evoluído de uma forma geral, e o Brasil se tornado um ambiente cada vez mais propício para inovação e já totaliza oito startups unicórnio, aquelas que têm avaliação de preço de mercado no valor de mais de U 1 bilhão.

Se o Sudeste e Sul ainda concentram as forças quando o assunto são as startups, o Recife desponta como um polo descentralizado e chama a atenção de toda a cadeia, seja de investidores, empreendedores, soluções de outras startups e até mesmo do Google. O ecossistema já consolidado através do Porto Digital e do Cesar, para citar dois exemplos de maturidade para o mercado local, fortalece o empreendedorismo em Pernambuco. Muitas startups que nasceram aqui já conquistaram espaço entre as grandes brasileiras. Porém, ainda não é um caminho fácil.

Empreender, dizem os especialistas, é uma tarefa árdua e solitária. Exige paciência e dedicação, mas não só isso. Para ter sucesso, não basta apenas ter uma boa ideia. Ela precisa ser inovadora e capaz de resolver um problema proposto. E a crise econômica acendeu o alerta para as muitas ineficiências no Brasil, propiciando um fomento ao empreendedorismo e à qualidade dele para quem esteve atento a essas questões. “A crise fez com que as pessoas empreendessem mais, e o momento trouxe uma percepção da quantidade de ineficiências que poderiam ser solucionadas com produtos e serviços. Acho que essa combinação trouxe um aumento no número de startups no Brasil e também uma alta na qualidade dos empreendedores”, disse André Barrence, diretor do Google Campus, durante o evento Startup Summit, realizado pelo Sebrae em Florianópolis.

Nesta entrevista, ele traz um olhar sobre o ecossistema brasileiro de startups e, apesar de não existir uma fórmula mágica, detalha o que elas precisam para tentar empreender e alcançar melhores resultados. Além disso, André Barrence mostra como o Google pode ser um parceiro nessa jornada, revela que o Recife é visto com bons olhos como um polo de inovação e conta como a companhia pode abrir caminho para startups pernambucanas.

Entrevista // André Barrence, diretor do Google Campus

Como está o ecossistema no Brasil para as startups?
Acho que a gente nunca esteve em um momento tão bom. A gente sempre tem a tendência de se comparar com outros ecossistemas fora do Brasil, mas acho que o melhor exercício é a gente se comparar com a gente mesmo e ver a evolução e o progresso dos últimos anos. Então acho que a gente vive hoje um momento que é um marco dentro desse ecossistema, em que a gente tem atores que são importantes para que isso floresça bastante alinhados. Então, temos o poder público, a iniciativa privada, os empreendedores e capital empreendedor. É óbvio que existe espaço para melhoria, mas em 2019 sinto que a gente está em um momento de maturidade que nunca estivemos antes.

Você acredita que a crise levou as pessoas a empreenderem e resultou no fortalecimento desta cadeia?
O empreendedor de startup, especificamente, empreende quando vê uma oportunidade muito grande de criar algo que vá solucionar um problema e que tenha um potencial de retorno tão grande quanto o problema. Eu diria que a crise não fez com que as pessoas empreendessem mais, mas o momento que passamos nos últimos anos trouxe para os empreendedores uma percepção da quantidade de ineficiências e problemas que a gente poderia solucionar com produtos e serviços de tecnologia. Acho que essa combinação acabou trazendo um aumento no número de startups, mas também um aumento da qualidades dos empreendedores. Antes, a gente tinha a ideia que o empreendedor era um recém-formado e hoje o perfil mudou bastante. Temos pessoas muito experientes trabalhando e criando suas empresas, e acho que isso é uma tônica de um ecossistema mais maduro. Então, a combinação de grandes ineficiências e problemas, com melhores empreendedores e mais possibilidades de criar suas startups é que faz a gente chegar nesse momento tão bom.

Ter apenas uma boa ideia não adianta, o que um empreendedor precisa para se inserir neste mercado?
A ideia não vale muita coisa ou não vale quase nada. Na minha visão, precisa de 99% transpiração e 1% inspiração. Então é execução. A capacidade dele de executar e transformar o que ele teve de ideia em um produto e, principalmente, um produto que atenda e resolva uma necessidade de mercado, que vai fazer com que ele seja desejado e imprescindível para o cliente é o que vai definir. Mas em uma palavra é execução. A gente diz que fazer uma startup é um trabalho hercúleo. Muito provavelmente, o empreendedor vai precisar não só ele ser muito bom de execução, mas criar um time que seja muito bom de execução, com habilidades diferentes, visões diferentes e com diversidade porque isso traz uma visão diferente sobre o problema. Para mim, esse é o grande fator diferencial. É preciso ele ter muito dinheito? Não, é preciso ele ter dinheiro suficiente para conseguir levar o produto para o próximo estágio e isso vai fazendo com que ele prove que aquilo que ele construiu tem mercado e potencial para crescer.

Como o Google enxerga as startups e como elas podem se inserir neste mundo que é visto como dos sonhos?
O Google nasceu como startup e acredita muito no potencial e temos produtos e soluções que atendem desde o dia um até ela virar uma empresa consolidada. Tudo que a gente tem disponível, a gente gosta de consolidar isso em plataformas e convido a acessar o startup.google.com.br porque lá tem como o Google pode te ajudar desde os primeiros momentos e estágios de criação de startups. Aqui no Brasil, a gente tem o privilégio de ter o Google For Startups, ter o espaço físico em São Paulo e ter várias conexões que nos levam para o restante do Brasil. Então, convido o empreendedor a sempre buscar no Google o que ele está precisando e como o Google For Startups pode ajudá-lo, desde o momento que ele começa até os desafios de crescimento que ele vai tendo, porque a gente sabe que o empreendedor é muito sozinho e é um desafio. A gente acredita que o Google pode ser um parceiro ou o principal parceiro para essas startups ao longo da vida delas.

Como o Recife é visto em termos de inovação?
É espetacular. A gente teve, se não me engano, duas startups que vieram do Recife. Elas são muito boas. A gente acredita que a cena, assim como em Florianópolis, é bastante privilegiada, como também em Belo Horizonte e em algumas outras cidades. E que, óbvio, precisa evoluir, se manter relevante, trazer novas startups que vão continuar essa trajetória de crescimento do ecossistema. O Recife tem várias boas startups, como a In Loco, a OverDrives e o próprio Porto Digital que já está superconsolidado. Então, a gente vê o Recife como uma luz muito brilhante quando se olha para o Norte e Nordeste, já se criou uma aura para que se olhe para o Recife como uma referência.

O Google está com programa aberto para startups. Como as soluções pernambucanas podem se beneficiar?
A gente está com um programa aberto agora para startups em estágio inicial: o Startups Zone. As inscrições vão até 25 de agosto. Não tem foco setorial e nem de tecnologia, mas alguns requisitos. Tem que ter um produto mínimo já existente, que estar começando a pensar qual é o mercado e os canais de aquisição porque a gente consegue ajudar nesse primeiro ciclo de crescimento e de melhoria de produto. Depois, vamos ter inscrições para um programa para startups em estágio de crescimento, que vai ser 100% focado em startups em crescimento de fora de São Paulo. Então, temos que ter alguma startup do Recife, tem que ter! Para esse programa não vai ter um foco específico de setor, mas talvez tenha um foco de tecnologia. Mas quando abrir as inscrições a gente vai destacar.