Petrobras vai segurar os preços Petróleo sobe 13% com corte recorde na produção, devido à crise no Oriente Médio, mas estatal não mexerá no valor dos combustíveis

Publicação: 17/09/2019 03:00

O maior corte na produção global de petróleo da história levou as cotações internacionais a subir 13% em apenas um dia, a maior alta diária em 11 anos. A Petrobras, porém, decidiu não mexer nos preços dos combustíveis por enquanto, sob o argumento de que o cenário ainda é muito volátil.

As ações da empresa tiveram forte alta, ajudando a Bolsa de Valores de São Paulo a fechar o dia em valorização de 0,17%, a 103.680 pontos, mas analistas veem o cenário como um teste para a política de preços dos combustíveis, que prevê o acompanhamento das cotações internacionais dos derivados de petróleo.

O corte, de 5,7 milhões de barris, foi provocado por ataques no sábado a instalações petrolíferas na Arábia Saudita, o segundo maior produtor mundial. O corte representa metade de sua produção e cerca de 6% da oferta global. Foi maior do que o verificado no segundo choque do petróleo, em 1970, quando o Irã retirou do mercado 5,6 milhões de barris por dia em meio à revolução islâmica naquele país.

O diretor-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), Décio Oddone, comparou os ataques ao 11 de Setembro do mercado de petróleo, em referência ao ataque terrorista às torres gêmeas. Ele afirmou, porém, que não há risco de desabastecimento de combustíveis no país. Segundo Oddone, o cenário global pode melhorar o interesse pelos três leilões de áreas exploratórias que o país fará até novembro.

A Petrobras não se manifestou oficialmente sobre o assunto, mas a reportagem apurou que a avaliação interna é que o cenário ainda é de grande volatilidade e, por isso, é preciso esperar os próximos movimentos antes de decidir por reajustes. Para os analistas Luiz Carvalho e Gabriel Barra, do banco UBS, a situação é “desafiadora”, já que, além do petróleo, a taxa de câmbio deve sentir os efeitos da crise no Oriente Médio.

Eles lembram que, no passado, a Petrobras segurou seus preços em crises semelhantes, gerando prejuízos em suas operações de refino. “Questões de curto prazo devem surgir, já que, no caso de repasse integral do preço do petróleo para o consumidor, caminhoneiros que já mostram desconforto com o preço do diesel e a política de frete mínimo podem se reorganizar para uma nova greve”, concorda Daniel Cobucci, do Banco do Brasil Investimentos.

Em abril, durante um ciclo de alta das cotações internacionais, o presidente Jair Bolsonaro determinou que a direção da Petrobras suspendesse reajuste no preço do diesel, alegando risco de nova greve de caminhoneiros. A decisão levou a estatal a perder R$ 32 bilhões em valor de mercado em apenas um dia.

No Brasil, para analistas, o principal impacto neste momento se dá sobre as companhias aéreas, que têm no querosene de aviação parte significativa de seus custos. Azul e Gol estiveram entre as maiores desvalorizações do pregão de ontem. (Da Folhapress)