Plano de Paulo Guedes visa economizar R$ 37 bilhões Proposta pode alterar verba mínima da saúde e da educação e impedir reajuste automático de servidores

Publicação: 23/09/2019 03:00

O governo federal estima que pode obter R$ 37 bilhões com a retirada do aumento pela inflação de diferentes despesas obrigatórias. A proposta que reforma o Orçamento pode alterar o mínimo destinado a saúde e educação, impedir o reajuste automático anual para servidores e extinguir fundos públicos. O plano do ministro Paulo Guedes (Economia) é desobrigar, desvincular e desindexar o Orçamento para reduzir as despesas obrigatórias por meio de uma Proposta de Emenda à Constituição.

Os “3Ds” são considerados internamente como o grande plano do titular da pasta para o segundo semestre, mas já vêm encontrando resistências. Os estudos são feitos depois das recentes pressões para alterar o teto de gastos da União, e do pedido do presidente Jair Bolsonaro (PSL) para encontre uma alternativa ao aperto nas contas públicas, de forma que o ajuste não prejudique seu plano de reeleição em 2022.

A solução de Guedes, que é contrário a mudanças no teto de gastos, é liberar recursos para o governo ir reduzindo o patamar das despesas obrigatórias. A constatação é que elas crescem continuamente, o que resulta em menos espaço para as despesas discricionárias (aquelas sobre as quais o governo tem poder de decisão, o que inclui investimentos).

O plano declarado por Guedes é desobrigar todas as despesas do Orçamento, mas a equipe econômica já reconhece que não é possível mexer em tudo. Isso ocorre porque há despesas consideradas impossíveis de serem eliminadas, como aposentadorias e salários de servidores. Por isso, alguns integrantes da equipe econômica defendem a desindexação como a parte mais importante da proposta.

O instrumento permitiria ao governo reduzir o crescimento das despesas que não pode eliminar. Na desindexação, uma das ideias é alterar o piso para saúde e educação. Desde 2016, a emenda constitucional do teto de gastos estabelece que cada uma das duas áreas deve receber o mesmo valor do ano anterior mais a correção pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

Antes do teto, o gasto mínimo era um percentual da receita corrente líquida. O governo indicava no começo que poderia até eliminar o piso, mas a equipe econômica identificou que a proposta será contestada e que a aprovação pelo Congresso seria muito difícil. Dessa maneira, agora trabalha com a ideia de, pelo menos, remover a correção automática pela inflação.

Mesmo assim, a equipe reconhece que encontrará resistências e argumentos já são reunidos para as alterações. O primeiro é que as mudanças não necessariamente reduziriam o volume destinado às áreas, mas dariam à classe política a possibilidade de definir os montantes ano a ano. Além disso, o envelhecimento da população demandaria, na visão de técnicos, mais recursos para a saúde e menos para a educação.

Outra mudança avaliada é o reajuste de servidores, hoje previsto na Constituição. A Carta determina revisão anual e, com base nisso, uma decisão do STF confirma que deve haver reajuste anual. A corte decidiu também de forma contrária à redução de jornada e salários. Outra desindexação que chegou a ser cogitada, e foi noticiada nos últimos dias, viria da retirada da Constituição da obrigação do reajuste do salário mínimo.

Nas contas do governo, cada R$ 1 a mais no mínimo aumenta a despesa da União em R$ 300 milhões ao ano. A Constituição determina “reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo”. Nos últimos governos, a correção seguia o INPC (que mede a inflação de quem ganha de um a cinco salários mínimos) mais o crescimento do PIB de dois anos antes.