PERFIL EMPREENDEDOR » Uma mestra em empreendedorismo Annie Bittencourt, referência em escolas de idiomas no Recife, abre a Red House School de ensino bingue

Etiene Ramos
dpempresas@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 14/09/2019 03:00

Ela é uma prova de que gostar de estudar, e muito, não inibe uma vocação empreendedora, como alguns pensam. Aos 17 anos, Annie Bittencourt fazia duas faculdades, Letras e Direito, e arranjou o primeiro trabalho, como professora da escola de inglês Pink and Blue, vizinha à sua casa em Piedade, contra a vontade dos pais. Alegavam que poderia atrapalhar os estudos. “Realmente atrapalhou, na visão deles, porque larguei o curso de Direito – que tanto queriam - e decidi que eu queria mesmo era ensinar”, recorda.

Não parou mais e há 29 anos ela não faz outra coisa que não esteja envolvida ao ensino de idiomas. Depois de 22 anos como franqueada do Yázigi, ela passou para a rede CNA, assumindo cinco escolas no Recife e dividindo-se entre a Zona Sul e Norte, onde mora. As tarefas são compartilhadas em família, com o marido José Maria no controle financeiro e as filhas Larissa e Débora ajudando na administração de um universo que elas conhecem desde o berço. “Quando tive minhas filhas, voltei a trabalhar após um mês. Montei um bercário na escola, trouxe babá e não parei de amamentar, nem deixei minhas atividades”, conta Annie, revelando um outro traço da mulher empreendedora que é encontrar fórmulas próprias para dar conta dos seus vários papéis.

Hoje, com 53 anos, filhas formadas, mestrado em Ciência da Linguagem, MBA e especializações pedagógicas, ela está concluindo um curso de Pedagogia à distância porque não consegue parar de estudar. “Se você não conhece bem a sua área de atuação tem mais dificuldades. Por isso sei que é preciso se capacitar, vencer as crises estudando”, declara, buscando sempre mais conhecimento em congressos internacionais de educação, especialmente nos Estados Unidos e no Canadá.

Novo sonho em prática
Mesmo com o pragmatismo que o dia a dia exige, nem de longe Annie deixa de lado os sonhos que lhe impulsionam para novos empreendimentos como a abertura, no próximo dia 24 de setembro, da primeira franquia da Red House International School. No meio do casarão em obras, no bairro do Espinheiro, Zona Norte do Recife, ela mostra uma energia adolescente e um domínio pleno dos objetivos, enquanto conta que desejava realizar o sonho de ter uma escola para crianças e, enquanto procurava um modelo em que acreditasse, os sócios da Red House estudavam o mercado do Nordeste, viam o potencial e também procuravam um parceiro para iniciar a expansão além de São Paulo, onde estão instalados. “Várias pessoas me indicaram e, quando fui convidada a conhecer a escola me encontrei com a metodologia, o propósito. Tudo diferente, não se faz nada igual. É fazer educação por amor. A educação transcendo o pedagógico, é formar o ser, a pessoa de forma holística, para lidar com os outros e superar dificuldades”, reflete.

Com um investimento em torno de R$ 1,5 milhão, a franquia da escola infantil bilingue que Annie Bittencourt está abrindo é, para ela,.  seu maior empreendimento. Não pelo valor financeiro, mas pelo desafio de implantar uma escola de educação básica fundamentada no padrão suiço que ocupa o primeiro lugar do ranking de qualidade em educação do World Economic Forum 2018. “Temos um diretor pedagógico, Mathias Meir, que veio para o Brasil implantar a Escola Suíço-Brasileira, e está nos ajudando na seleção da equipe para o Recife”, explica Annie, adiantando que as aulas para os pequenos, a partir de 1 ano e meio, serão 100% em inglês, podendo chegar a 60% inglês e 40% em português, índices acima da média mundial que é de de 50% do idioma nativo.

O ensino da Red House para matemática é baseado no método de Cingapura, considerado o mais eficaz do mundo. A escola tem um Centro de Estudos Avançados, em Genebra, e oferece educação infantil e ensino fundamental I e II, mas apesar dos parâmetros internacionais de qualidade, as mensalidades foram adaptadas à realidade brasileira. Variam  de R$ 2.177,00 a R$ 2.577,00, com opções de horário estendido até 15h40 e até 18h00, onde é possível fazer  atividades como yoga infantil, judô ou ballet e capoeira. “Com a crise, os colégios passaram a incluir aulas de inglês e isso abalou os cursos de idiomas. Como tinha que colocar a criatividade e a experiência em prática, inventei o CNA Integral, oferecendo também aulas de ciências, geografia e educação financeira para manter os alunos”, revela a empresária.

Do Coque para o mundo
Nascida no Rio de Janeiro, Annie veio cedo para o Recife quando o pai foi transferido no trabalho e daqui não quer sair nunca mais. Passando um dia pelo viaduto Joana Bezerra, olhou para a comunidade do Coque e entendeu que era hora de compartilhar e exercer sua missão de educar em outros ares. Daí nasceu o projeto Cidadão do Mundo que, desde 2003, vem oferecendo cursos de inglês para os melhores alunos das escolas públicas do Coque, um dos locais de baixa renda mais vulneráveis do Recife. Começou com uma turma de vinte meninos e meninas, com uma aula por semana, na unidade de Boa Viagem, por quatro anos. “Em algumas fases tivemos até duas turmas e vi o quanto a educação muda a vida das pessoas quando encontrei um ex-aluno, numa palestra, e ele contou que cresceu nas cozinhas das patroas de sua mãe, mas passou a conviver em outros ambientes e a estudar mais depois da formação em inglês”, lembra Annie que, não teve dúvidas e na mesma hora contratou o jovem para sua equipe de monitores.