Empresas familiares afirmam identidade Sucessores não abrem mão dos princípios que formam a cultura da empresa e traçam o sucesso e a longevidade dos negócios da família

ETIENE RAMOS
dpempresas@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 19/10/2019 03:00

Empresas tradicionais, a maioria familiares, estão construindo suas identidades corporativas para permanecerem estáveis, rentáveis e inovadoras diante de um cenário Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo – o mundo VUCA. Para ajudar nesta tarefa, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), lançou esta semana, no Recife, a publicação Identidade da Família Empresária – um elemento de coesão para continuidade dos negócios.

Ela traça um roteiro básico para as empresas familiares encontrarem caminhos mantendo os seus princípios e dos quais os sucessores não abrem mão porque estão por trás do sucesso do negócio. E, na maior parte, foram criados pelos fundadores. “O caderno de identidade da família empresária não é uma solução de prateleira para se definir identidade familiar empresária. No processo, a riqueza pode não ser ter uma identidade definida, uma cartilha que fomente isso. A construção  é muito mais rica. Tem o envolvimento dos membros da família, de passaram a entender o ponto de vista do outro, da história familiar e quais os seus impactos no presente e no futuro”, observa a presidente do Capítulo Pernambuco do IBGC, Carolina Queiroz. Segundo ela, a construção da identidade e da governança corporativa ajudam a centrar melhor a família, o negócio, para definir o norte, evitar turbulências e perdas de foco e prioridades.

A Indústria Raymundo da Fonte, fundada em 1946, encontrou, há dois anos, o momento certo de dar início à construção da sua identidade, a fim de consolidar a cultura implantada pelo fundador que dá nome à empresa. A motivação veio com a entrada de profissionais de mercado na diretoria, antes formada por familiares. “Eles são alinhados com nossos valores mas vieram de outras empresas, com outras culturas e, nessa transição, o nosso conselho de administração resolveu dar início ao processo”, declara o superintendente da Raymundo da Fonte, Hisbello Andrade Lima, lembrando que a identidade ou alinhamento cultural garante o cumprimento do planejamento estratégico e a meta de se perpetuar, além de crescer.

Responsável pela condução do processo, a diretora da Uniq Branding, Carolina da Fonte, afirma que a longevidade das empresas familiares exigirá uma maior sintonia entre governança, identidade e inovação, áreas que, até bem pouco tempo, seguiam caminhos desconectados e independentes. “Não existe uma hierarquia mas a identidade precisa ser uma diretriz que oriente escolhas, investimentos em governança e em inovação e toda gestão de pessoas. Essa sintonia está crescendo muito nos últimos dois anos, está em maturação”, observa.

Para ela, isso faz parte das mudanças de cenários que levam à governança a rever seu papel, antes centrado em controlar, preservar, mitigar riscos. “O mundo VUCA impacta todas as organizações. A governança precisa conectar e impulsionar a inovação e, em função dessa necessidade, a identidade chegou. Para inovar temos que fazer escolhas. A empresa precisa fazer uma jornada nova e qual é o guia, qual o mapa? A identidade aponta uma referencia, em sintonia, e dá singularidade à empresa”, diz Karina. Para ela, é um ponto comum, mais que um contrato, e os conselheiros estão atentos a conhecer a identidade para ser uma peça que fortaleça a empresa”, pontua Karina da Fonte.

Integrante da terceira geração da família que, por determinação do avô, Raymundo da Fonte, não trabalha na fábrica e segue com empreendimentos ou profissões próprias, ela conta que o maior desafio foi trabalhar com imparcialidade, sem filtros, nem julgamentos. E o maior apoio veio da diretoria, do envolvimento com o projeto baseado na valorização dos colaboradores - um traço do DNA do fundador.