Com coronavírus, dólar chega a R$ 4,44 e bolsa cai Receio de impacto da doença sobre economia abalou retomada dos mercados financeiros após carnaval

Publicação: 27/02/2020 03:00

Os receios quanto ao impacto coronavírus sobre a economia mundial afetaram fortemente o mercado financeiro no retorno do carnaval. Em alta pela sexta sessão seguida, o dólar voltou a fechar no maior valor nominal desde a criação do real. Ontem o dólar comercial encerrou a sessão vendido a R$ 4,444, com alta de R$ 0,051 (+1,16%). A bolsa de valores caiu 7%, a maior queda diária em quase três anos. Desde o começo do ano, o dólar acumula valorização de 10,75%. O euro comercial fechou o dia vendido a R$ 4,85, com alta de 1,43% nesta quarta-feira.

O Banco Central (BC) vendeu, nos primeiros minutos de negociação, US$ 500 milhões em contratos de swap cambial – que equivalem à venda de dólares no mercado futuro – e anunciou um leilão de US$ 1 bilhão para hoje. Mesmo assim, os anúncios foram insuficientes para segurar a alta da moeda americana. Por causa da Quarta-Feira de Cinzas, o mercado só operou à tarde ontem.

No mercado de ações, a turbulência foi ainda maior. O índice Ibovespa, da B3 (antiga Bolsa de Valores de São Paulo), encerrou ontem aos 105,718 pontos, com recuo de 7%. Essa foi a maior queda para um dia desde 17 de maio de 2017, quando o indicador havia caído 8,8% após a divulgação de conversas do então presidente Michel Temer.

Nas últimas semanas, o mercado financeiro em todo o mundo tem atravessado turbulências em meio ao receio do impacto do coronavírus sobre a economia global. Além da interrupção da produção em diversas indústrias da China, a disseminação da doença na Europa e a confirmação do primeiro caso no Brasil indicam que outras economias podem reduzir a atividade por causa do vírus.

Com as principais cadeias internacionais de produção afetadas, indústrias de diversos países, inclusive do Brasil, sofrem com a falta de matéria-prima para fabricarem e montarem produtos. A desaceleração da China também pode fazer o país asiático consumir menos insumos, minérios e produtos agropecuários brasileiros. Uma eventual redução das exportações para o principal parceiro comercial do Brasil reduz a entrada de dólares, pressionando a cotação.

Entre os fatores domésticos que têm provocado a valorização do dólar, está a decisão recente do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de reduzir a taxa Selic – juros básicos – para 4,25% ao ano, o menor nível da história. Juros mais baixos desestimulam a entrada de capitais estrangeiros no Brasil.

Produção afetada

No caso do Brasil, a epidemia começou a afetar a indústria de produtos eletrônicos, altamente dependente da compra de insumos do país asiático. Cerca de 57% das empresas do setor enfrentam problemas para receber materiais da China, o maior parceiro comercial do Brasil, segundo pesquisa divulgada na sexta-feira passada pela Associação Brasileira das Indústrias Elétricas e Eletrônicas (Abinee).

As exportações brasileiras para o país asiático podem diminuir, por sua vez, entre 10% e 15%, devido ao vírus e à trégua comercial entre China e Estados Unidos, segundo o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (IBRE-FGV). (Da Agência Brasil)

O que impactou a Bolsa de Valores?

  • Aumento no número de casos do coronavírus na Europa e Ásia provoca pânico nos mercados internacionais

  • O temor é por uma perspectiva de desaceleração mais aguda da economia global

  • A Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou para risco de pandemia em vários países

  • No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) estava fechada desde sexta-feira devido o feriado de carnaval

  • As principais bolsas internacionais também registraram quedas