Finanças já se aprende desde o ensino infantil Tema passa a ser obrigatório na sala de aula e especialistas alertam para os benefícios da discussão tanto dentro quanto fora do ambiente escolar

Patrícia Monteiro
Especial para o Diario
patricia.monteiro@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 22/02/2020 03:00

De acordo com pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 65% dos brasileiros estão endividados. Na opinião de especialistas no assunto, para boa parte dos inseridos neste percentual, a questão está mais associada à falta de educação financeira do que, propriamente, à escassez de recursos. Um problema que pode atingir um número menor de pessoas nas próximas gerações. Afinal, desde o início deste ano letivo, todas as escolas brasileiras precisaram estar 100% adaptadas às novas normas da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que obriga a inserção da educação financeira nas instituições de ensino a partir do fundamental I, ou seja, dos 6 a 10 anos.

Segundo especialistas, a partir dos quatro anos já há este discernimento para absorver os conteúdos. Atualmente, cerca de 800 escolas com 300 mil crianças e jovens de todo o Brasil passam pelo processo, utilizando o Programa DSOP Educação Financeira nas Escolas. O DSOP existe há 11 anos atuando há seis em 21 escolas públicas e 60 particulares de Pernambuco. Ao contrário do que pode parecer, a princípio, sua metodologia quase não se utiliza de números, segundo Carolina Buarque, educadora e terapeuta financeira formada na DSOP São Paulo. “Trata-se, afinal, de uma ciência humana, que cria um comportamento sustentável com o objetivo de gerar, a longo prazo, uma geração sustentável financeiramente. Nosso objetivo é falar sobre orçamento, poupança e sonhos. Não é só dinheiro, é tudo em volta dele e que perpassa alguns campos como empreendedorismo, família, diversidade dos valores (o que é supérfluo ou não), riqueza e pobreza, autonomia e cidadania”, explica.

Carolina detalha, ainda, que o objetivo do programa é construir um novo modelo mental na criança, para que ela lide com o dinheiro visando realizar sonhos, embora se deixe bem claro, também, que há aqueles que ele não compra. “Pode-se conviver com o consumismo sem ser consumista. Pode-se identificar o que é necessidade ou desejo, sempre priorizando sonhos, que devem ser “blindados” porque haverá verba necessária para isso”, ressalta. Pais e professores também são capacitados com cursos online gratuitos. Até para que os professores não encarem a nova demanda apenas como um trabalho adicional.

O economista Edgard Leonardo, mestre em administração pela UFPE, consultor e palestrante, ratifica a importância da educação financeira nos primeiros anos de escola e afirma que se trata de uma questão comportamental. O especialista destaca a necessidade da mobilização conjunta, em família, sobre o assunto. Isso inclui o planejamento de ações envolvendo todo o núcleo familiar, além de conversas sobre o tema.

“Na nossa sociedade machista, muitas vezes o pai, provedor, passa por dificuldades,  como um revés ou redução dos seus rendimentos, mas não compartilha isto para não se sentir diminuído. A criança, e principalmente o jovem, entretanto, precisa saber o que acontece. Consumir é bom, pois dinamiza a economia. Muitos, entretanto, não sabem lidar com crédito, cheque especial, financiamento e querem antecipar consumo. Esta ciranda leva à desestabilização. É importante entender, também, que o problema advindo do consumismo exacerbado pode ser, inclusive, familiar”, conclui.

Saiba Mais

Reflexos da educação financeira nas escolas

  • 71% dos alunos que têm aulas sobre o tema nas escolas ajudam os pais a fazerem compras conscientes
  • 93% das pessoas nunca aprenderam na escola nem em casa a administrar o próprio dinheiro
  • 78% das pessoas acham que educação financeira trata-se de uma ciência exata, quando é humana
  • 94% dos pais são apresentados à educação financeira por meio dos filhos que frequentam escolas onde são oferecidos programas sobre o tema
  • 7 em cada 10 crianças com educação financeira reagem bem em frente a um revés financeiro
  • 100% das escolas sem educação financeira nunca tiveram eventos sobre o tema
  • Em uma escola com educação financeira em sua grade curricular, 100% dos alunos apresentaram mudança comportamental em relação ao uso do dinheiro
Comportamento dos filhos:

Frente a uma negativa de compra, reagem bem/regular
Sem educação financeira 57%
Com educação financeira 100%

Reúnem-se com a família para falar sobre dinheiro
Sem educação financeira 33%
Com educação financeira 98%

Filhos sabem da situação financeira da família
Sem educação financeira 6%
Com educação financeira 67%

Filhos que poupam ou gastam parcialmente em coisas que valorizam
Sem educação financeira 18%
Com educação financeira 100%