Teleatendimento médico vira realidade Para cumprir isolamento necessário e atender demanda, profissionais iniciam atendimento por vídeo

Patrícia Monteiro
Especial para o Diario
patricia.monteiro@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 04/04/2020 03:00

O Conselho Federal de Medicina (CFM) decidiu, em caráter de excepcionalidade, e enquanto houver a necessidade da manutenção do isolamento social, reconhecer a possibilidade e a eticidade da utilização da telemedicina. Ela pode ser exercida nos formatos de teleorientação, telemonitoramento e teleinterconsulta. Desde então, não são poucos os profissionais – individualmente ou em grupo e das mais diversas especialidades – que estão utilizando esta abordagem tanto para não se distanciar dos pacientes como para garantir renda em tempos de isolamento.

O urologista, preceptor no Hospital dos Servidores do estado e professor da Faculdade de Medicina Nassau, Dimas Antunes, lembra que, na verdade, a teleorientação já ocorria de maneira informal, errática e até mesmo caótica por parte de vários profissionais. “É difícil, por exemplo, achar um médico que não precise responder algo via whatsapp ou verificar um exame por e-mail e orientar, ainda que por alto, o paciente. A pandemia veio como catalisador para que a telemedicina enveredasse de vez”, analisa.

Desde o dia 21 de março, quando começou o atendimento em casa, Dimas já atendeu cerca de 20 pacientes. Ele tinha consultas marcadas até o final de abril. Sócio de um grupo de urologistas e em sociedade com outros, de demais especialidades, estuda, agora, formas de atendimento rotativo e em grupo. Em seu teleatendimento, o médico prescreve medicações ou envia ao paciente uma receita que já tem QR-Code com cadastramento e assinatura eletrônica. Pode, ainda, enviar atestado, solicitações de exames de imagens e de laboratório. Ele ressalta, entretanto, a necessidade de que toda a cadeia de atendimento esteja ativada para isto também.

“É necessário que o farmacêutico aceite esta receita enviada via online, que o empregador faça o mesmo com atestado médico, que as clínicas aceitem a requisição e o plano de saúde não a glose. Espero que consigamos acompanhar o amplo cuidado aos pacientes com a mesma rapidez com o qual o coronavírus vem se espalhando”, explica. Outro desafio do teleatendimento é a questão da remuneração. “Por enquanto, só há um plano de saúde no Brasil utilizado em Pernambuco que se posicionou em relação a esta cobertura. Espero que nas próximas semanas outros passem a entender esta necessidade”, conclui.

A geriatra Danielle Marinho também está atendendo via remota. Ela conta que o objetivo é conciliar a necessidade da população, que tem inúmeras dúvidas sobre o coronavírus e está, justificadamente, com medo de ir à emergência. Ela tem utilizado um prontuário eletrônico que permite, inclusive, o recebimento de pagamentos das consultas por meio do cartão de crédito. “Uma consulta médica, pelo código de ética, é considerada quando há a anamnese (entrevista) e, embora seja fundamental o exame clínico físico para a conclusão do diagnóstico, neste momento podemos orientar em determinadas situações. Por vídeo, podemos analisar sinais inflamatórios como vermelhidão e inchaço e questionar sobre temperatura das lesões, dores. Não é ideal, mas está ajudando e vai auxiliar a desafogar o sistema de saúde”, afirma.

Saiba mais

Entenda a diferença

  • Teleorientação: para que profissionais da medicina realizem à distância a orientação e o encaminhamento de pacientes em isolamento

  • Telemonitoramento: ato realizado sob orientação e supervisão médica para monitoramento ou vigência à distância de parâmetros de saúde e/ou doença

  • Teleinterconsulta: exclusivamente para troca de informações e opiniões entre médicos, para auxílio diagnóstico ou terapêutico