Venda de pescado tem queda de 90% Com redução no turismo e na demanda, pescadores artesanais relatam perdas em diversos municípios do estado, como Itapissuma e Itamaracá

Patrícia Monteiro
Especial para o Diario
patricia.monteiro@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 26/05/2020 06:00

Com a pandemia da Covid-19, o isolamento social e o fechamento dos principais estabelecimentos de comercialização, os pescadores artesanais de Pernambuco viram as vendas despencarem 90%. Esta redução ocorreu principalmente em municípios como Itapissuma e Itamaracá, segundo dados do Conselho Pastoral de Pescadores. Pelos dados apresentados, mesmo um município como Itapissuma, que não possui um turismo tão pulsante, possui cerca de 70% do seu comércio voltado para a pesca que atende a este segmento.

Joana Rodrigues Mousinho, 64, presidente da colônia de pescadores de Itapissuma, relata a dificuldade das vendas.  “Ainda é possível vender o peixe seco, muito utilizado como aperitivo, mas outras coisas não. O filé de siri, por exemplo, que vendo, só ando pescando para consumo próprio. Eu sou aposentada pela pesca, então, estou conseguindo sobreviver, mas quem não é? Muitas mulheres vivem da venda de caldinho ou caldeirada na praia. Um dia desses, recebemos 350 cestas de empresários, mas tivemos que escolher para quem doar de acordo com quem tinha mais necessidades ou filhos. Ninguém estava preparado para esta queda, este impacto tão grande. Está difícil demais”, relata.

A marisqueira Arlene Maria da Costa, 42, de barra de Sirinhaém, conta uma história semelhante a de Joana. “Não estamos conseguindo vender os pescados, principalmente marisqueiras. Hoje, as vendas não são nem 30% em relação ao habitual. Muitos ainda pescam, mas apenas para comer. O dinheiro do auxílio emergencial chegou para uns e não para outros. Quem ainda tem como armazenar o pescado, que está abundante, consegue estocar. Muitos, entretanto, só têm uma geladeira pequena que mal cabe um pedaço de carne e uma galinha”, revela.

Em Tamandaré, quando não há movimentação de veranista, boa parte do comércio chega a fechar. Neste município, entretanto, alguns pescadores incluíram, desde o final de março, as ofertas dos seus produtos nas redes sociais. Severino Ramos dos Santos, presidente da Colônia dos Pescadores Z 05, conta que a divulgação vem atraindo compradores até da capital. Desta forma, conseguiram driblar a queda de até 70% nas revendas. “Na colônia, temos aproximadamente 300 pessoas. Não está 100% bom, mas não estamos em desespero”, conta.

Em locais do Litoral Norte, como Goiana, o quilo do marisco que variava de R$ 15 a R$ 20, em alta estação, está sendo vendido para o atravessador por R$ 10. Severino Santos cita, ainda, a queda dos preços em outro tipo de peixe como o camurim, que caiu de R$ 22 para R$ 18. “Em Rio Formoso, não há presença do turismo e a produção é vendida na rua ou feiras livres das regiões de Palmares, Barreiros. Houve redução no primeiro momento de restrição. Pelo mesmo motivo, caiu 100% em São José da Coroa Grande. Em ambos os locais, o comércio está se reestabelecendo, mas com preços muito mais baixos”, revela.