Escolas operam com 60% da receita
Redução é referente à inadimplência, descontos nas mensalidades e perdas de outras receitas correntes
Tatiana Notaro
Especial para o Diario
tatiana.notaro@diariodepernambuco.com.br
Publicação: 06/06/2020 03:00
As escolas particulares viraram a vidraça do orçamento familiar em meio à pandemia da Covid-19. Segundo o sindicato do segmento, algumas escolas operam com 60% da receita total, lidando com descontos cedidos nas mensalidades, inadimplência e perda de outras receitas, como refeições, contraturno e atividades extracurriculares.
“Em torno de 80% das escolas particulares do Brasil são da Educação Infantil até o 5° ano do Ensino Fundamental 1. E metade delas não reabrirá após a pandemia”, diz o diretor-executivo do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino de Pernambuco, Arnaldo Mendonça.
Uma das escolas desse formato é a All4Kids, que fica no bairro de Apipucos, na Zona Norte do Recife. Segundo a proprietária, Fabíola Monteiro, um questionário interno mostrou que 60% das famílias de alunos foram afetadas pela pandemia. O público da instituição é alta renda, mas boa parte formada por profissionais liberais e comerciantes. De partida, a escola perdeu 35% da receita. “Isso aconteceu porque precisamos suspender as cobranças do contraturno, banca de estudos e refeições”, explica Fabíola.
Circulares e balanço financeiro, além de detalhamento das despesas extraordinárias, foram colocados à disposição dos pais, mas isso não evitou que, mesmo concedendo descontos nas mensalidades, a escola escapasse de ver a inadimplência, que já era alta, dobrar. “Outro porém é que os profissionais continuaram contratados, mas não deu certo e acabamos demitindo, mesmo fazendo uso da MP (Medida Provisória 936, que permite redução de salários e suspensão de contratos por causa da pandemia)”.
A All4Kids, a exemplo de outras escolas, ainda precisou lidar com desistências de contratos das turmas do maternal. “Como até os 3 anos a escolaridade não é obrigatória, muitos contratos foram cancelados. Até agora, 30”, diz Fabíola.
Descontos
À frente do sindicato, Mendonça diz que as escolas ouviram a recomendação do Ministério Público quanto à concessão de descontos lineares, de acordo com o percentual de redução de custos que cada instituição teve. “O que economizamos? Energia, água, produtos de limpeza, material de expediente e vale transporte dos funcionários. O que explicamos ao MP é que estas despesas correspondem a 5% do total. Meu peso está na folha de pagamento, que consome em torno de 70% da receita, além de aluguel e IPTU, por exemplo. Essa redução não ajuda ninguém e nem muda o problema da inadimplência”, argumenta.
O que tem sido feito na maioria das escolas são análises individuais da situação de cada contratante. Alguns casos, diz Mendonça, a concessão de desconto chegou a 100% para famílias que enfrentam desemprego. “Mesmo assim, nossos dados apontam que mesmo as escolas que deram descontos (em média, 17% de abatimento) perderam 18% dos alunos do infantil e estão trabalhando com 40% de inadimplência. Como é que essa conta vai fechar?”, indaga.
Saiba mais
Números da situação das escolas particulares em Pernambuco
Escalada da média de inadimplência geral
Fonte: Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino de Pernambuco
“Em torno de 80% das escolas particulares do Brasil são da Educação Infantil até o 5° ano do Ensino Fundamental 1. E metade delas não reabrirá após a pandemia”, diz o diretor-executivo do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino de Pernambuco, Arnaldo Mendonça.
Uma das escolas desse formato é a All4Kids, que fica no bairro de Apipucos, na Zona Norte do Recife. Segundo a proprietária, Fabíola Monteiro, um questionário interno mostrou que 60% das famílias de alunos foram afetadas pela pandemia. O público da instituição é alta renda, mas boa parte formada por profissionais liberais e comerciantes. De partida, a escola perdeu 35% da receita. “Isso aconteceu porque precisamos suspender as cobranças do contraturno, banca de estudos e refeições”, explica Fabíola.
Circulares e balanço financeiro, além de detalhamento das despesas extraordinárias, foram colocados à disposição dos pais, mas isso não evitou que, mesmo concedendo descontos nas mensalidades, a escola escapasse de ver a inadimplência, que já era alta, dobrar. “Outro porém é que os profissionais continuaram contratados, mas não deu certo e acabamos demitindo, mesmo fazendo uso da MP (Medida Provisória 936, que permite redução de salários e suspensão de contratos por causa da pandemia)”.
A All4Kids, a exemplo de outras escolas, ainda precisou lidar com desistências de contratos das turmas do maternal. “Como até os 3 anos a escolaridade não é obrigatória, muitos contratos foram cancelados. Até agora, 30”, diz Fabíola.
Descontos
À frente do sindicato, Mendonça diz que as escolas ouviram a recomendação do Ministério Público quanto à concessão de descontos lineares, de acordo com o percentual de redução de custos que cada instituição teve. “O que economizamos? Energia, água, produtos de limpeza, material de expediente e vale transporte dos funcionários. O que explicamos ao MP é que estas despesas correspondem a 5% do total. Meu peso está na folha de pagamento, que consome em torno de 70% da receita, além de aluguel e IPTU, por exemplo. Essa redução não ajuda ninguém e nem muda o problema da inadimplência”, argumenta.
O que tem sido feito na maioria das escolas são análises individuais da situação de cada contratante. Alguns casos, diz Mendonça, a concessão de desconto chegou a 100% para famílias que enfrentam desemprego. “Mesmo assim, nossos dados apontam que mesmo as escolas que deram descontos (em média, 17% de abatimento) perderam 18% dos alunos do infantil e estão trabalhando com 40% de inadimplência. Como é que essa conta vai fechar?”, indaga.
Saiba mais
Números da situação das escolas particulares em Pernambuco
- 51 instituições pesquisadas (incluindo interior do estado)
- Média de evasão no Ensino Infantil 18,15%
Escalada da média de inadimplência geral
- 21% Março
- 30% Abril
- 40% Maio
Fonte: Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino de Pernambuco
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O preço do retorno à normalidade