OBSERVATóRIO ECONôMICO » O novo normal

por André Matos Magalhães
Professor do Departamento de Economia da UFPE
observatorio@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 01/06/2020 05:30

Chegamos na metade do ano e a pandemia continua a avançar pelo mundo. O vírus avança agora na América Latina. Nesse processo, o Brasil começa a se tornar um dos principais focos de atenção do mundo.

Aqui, enquanto o governo federal se negava a enfrentar a crise, estados e municípios tomaram à frente da batalha. Levantaram restrições à mobilidade, ao funcionamento de negócios, fecharam escolas. Essas ações foram responsáveis por salvar milhares de vidas, achatando a curva e permitindo controlar o avanço do vírus.

Balanço
Em algumas atividades, o trabalho em casa pode até ser uma opção pós-crise. A produtividade das empresas parece ter aumentado. Por outro lado, há claros ganhos para os trabalhadores . O mais óbvio é o de tempo com o fim do deslocamento diário. Mas não podemos entrar nesse processo pensando apenas em criar novos custos para as empresas. A grande maioria é de pequeno e médio porte e apresenta estruturas enxutas

Com a esperança de que o pior já tenha passado, governos locais colocam em marcha planos de convivência com a Covid-19. São Paulo deu o primeiro passo na semana passada. Em Pernambuco, já há a expectativa que se inicie um processo de redução das restrições. Criam-se, assim, as primeiras tentativas de se chegar ao que muitos estão chamando de “novo normal”.

Enquanto tudo isso acontece, quem trabalha em empresas, principalmente, nas privadas, já percebeu que algo mudou. A pandemia forçou uma nova estruturação interna. Na urgência em encontrar soluções para continuar funcionando, uma das reações mais rápidas foi mandar as pessoas para casa. E assim, o agora famoso home office entrou na agenda do dia.

Mas mandar as pessoas trabalharem em casa não é algo trivial. A maior parte das empresas descobriu isso na marra. Para trabalhar em casa é preciso ter estrutura, em casa e na empresa. Internet virou algo ainda mais importante. Mas falar em nuvens também. Onde estão os processos? Como ter acesso aos documentos? Como organizar o trabalho de longe? Que estrutura é preciso ter em casa? Rapidamente, empregadores e empregados se deparam com essas questões.

É claro que muitos setores não podem trabalhar assim. Precisam de pessoas se aglomerando e só vão melhorar quando a economia for aberta. Mas a boa notícia, precisamos muito delas, é que muitas empresas estão conseguindo se virar. O primeiro mês foi certamente difícil, mas as soluções apareceram. Em algumas atividades, o trabalho em casa pode até ser uma opção pós-crise e com maior produtividade.

Mas “se virar” não é suficiente. O trabalho em casa traz muitas vantagens e muitas complicações. Como bem notou o economista e colunista do Diario Alexandre Rands, na sua coluna da última semana, vamos precisar pensar, e rápido, em como criar regras e normas para nesse novo contexto as empresas possam ser mais eficientes.

Essas regras devem ser boas para o conjunto. Há problemas para os dois lados. Por exemplo, como fazer o trabalho acontecer e acompanhar? Como organizar uma agenda de trabalho em casa sem ser afetado pelo dia a dia da casa? Como regular os horários? Esses são certamente alguns dos desafios.

Mas há ganhos. A produtividade das empresas parece ter aumentado. Por outro lado, há claros ganhos para os trabalhadores com o home office (o mais óbvio é o ganho de tempo com o fim do deslocamento diário ao trabalho. Mas há outros).

Não podemos entrar nesse processo pensando apenas em criar novos custos para as empresas. A grande maioria das nossas empresas é de pequeno e médio porte. Apresentam estruturas enxutas. Vão precisar de ajuda para sair da crise e não de novas restrições e custos. Precisamos pensar num futuro diferente e melhor para todos.