ENTREVISTA - JULIANA COELHO » "Precisamos refinar nosso olhar para ser mais diverso"

Tatiana Notaro
ESPECIAL PARA O DIARIO
tatiana.notaro@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 04/07/2020 03:00

De trainee a gerente da planta da Jeep em sete anos, Juliana Coelho é engenheira química, formada pela Universidade Católica de Pernambuco, pernambucana e tem 30 anos. Ela assume o cargo em um ano com previsões bruscas de queda no mercado automotivo mundial e com o desafio de gerir a planta industrial mais importante do estado, um dos investimentos mais robustos do grupo Fiat Chrysler Automobiles (FCA) no mundo. No ano passado, o grupo anunciou um novo investimento de R$ 7,5 bilhões no estado, montante que foi reafirmado em videoconferência, nesta sexta-feira, entre o governador Paulo Câmara e o presidente da FCA na América Latina, Antonio Filosa. Na reunião, Filosa ressaltou a mudança no comando da planta.

Juliana Coelho tem em mãos a experiência de quem já foi, na Jeep, gerente das áreas de Pintura e de Montagem e, em 2018, gestora de VLM para América Latina, área responsável por novos desenvolvimentos na manufatura. Liderando um time majoritariamente composto por homens, Juliana vem alcançando postos ainda desigualmente ocupados por mulheres no Brasil. O indicativo mais recente do IBGE é de que, no país, 39% dos cargos gerenciais, públicos ou privados, eram ocupados por mulheres em 2018. E embora elas tenham uma média de escolarização maior, ainda recebem cerca de 20% a menos que os homens em postos semelhantes. Questionada, a FCA não foi clara quanto à equiparação salarial entre a atual gerente e seu antecessor.

No novo cargo, Juliana diz estar ciente de que sua atuação pode aproximar consumidoras dos produtos da marca e inspirar outras profissionais. “Fico muito feliz em inspirar outras mulheres a entender que podemos ir mais longe. Não existem limites, é preciso perseverar e ter humildade para aprender sempre”.

Entrevista - Juliana Coelho // gerente da planta Jeep em Pernambuco
 
Como chegou ao grupo FCA?

Desde criança, me interesso por carros. Quando soube da vinda de uma fábrica automotiva para Pernambuco, me inscrevi no programa de trainee, em 2013, havia acabado de sair da faculdade. Passei na seleção e entrei junto com outros 38 engenheiros para acompanhar a instalação da planta Jeep, desde a construção até a fase de operação. Por causa da minha graduação em engenharia química, entrei na área da pintura e tive a oportunidade de participar de treinamentos na Sérvia e Itália. De lá pra cá, fui me desenvolvendo profissionalmente, adquirindo novos conhecimentos e habilidades também na área de gestão.

Por que escolheu a engenharia como carreira?
Foi uma escolha natural. Sempre fui uma pessoa de números e me encantava como a engenharia é versátil, como poderia trabalhar em todos os tipos de indústrias e agregar valor a diferentes setores.
 
Sua formação é em uma área majoritariamente ocupada por homens e agora você passa a liderar uma fábrica de grande porte. Como você se vê no posto que passa a ocupar e que tipo de exemplo crê que possa passar para outras mulheres?
Entendo que estamos rompendo vários paradigmas. Sim, estamos em uma sociedade com histórico patriarcal na qual a área de engenharia é majoritariamente ocupada por homens, mas vejo que todos podem somar. Estamos vendo a quantidade de mulheres nessa área crescer. Estou feliz com a repercussão que a minha nova oportunidade tem tomado. Fico muito feliz em inspirar outras mulheres a entender que podemos ir mais longe. Não existem limites, é preciso perseverar e ter humildade para aprender sempre.

Seu antecessor é homem. Como você se projeta enquanto liderança, jovem e feminina, de um time composto por gerentes homens?
Tive a oportunidade de trabalhar com o Pierluigi como chefe, quando atuava como gerente da montagem da planta Jeep. Avançamos muito na FCA durante os últimos anos e temos cada vez mais entendimento da importância da diversidade e da inclusão. Diversidade cognitiva, de gênero, idade, raças, etc, é fundamental. Através da liderança, tenho certeza que vamos somar cada vez mais.

Qual será a cara da sua gestão à frente da Jeep?
Inclusiva e cuidando do que temos de mais importante: as pessoas. Tenho uma história no Polo Jeep e sei como as pessoas que estão aqui são apaixonadas e comprometidas com os nossos objetivos.

O mercado automotivo também tem forte apelo ao consumidor masculino. Você acredita que o produto Jeep pode se aproximar das consumidoras a partir do seu olhar?
Com certeza. Nas pesquisas que realizamos, entendemos que as mulheres são 51% da nossa população e controlam cerca de 75% do consumo nacional. Assim como queremos diversidade e inclusão dentro do nosso time, queremos também desenvolver produtos diversos para todos. Precisamos refinar o nosso olhar para ser cada vez mais diverso. Em um livro chamado A mulher invisível, de Carolina Criado, podemos ver como nossa sociedade passou anos ofertando produtos que foram criados com o foco apenas nos homens. Precisamos enxergar a todas! Feliz por estar em uma empresa que entende isso como valor.

Em uma autoavaliação profissional, a que você deve a conquista do espaço que você passa a ocupar agora?
Entendo que empatia, proatividade e humildade são valores pra mim. Sigo aprendendo e desaprendendo para avançar com a FCA.

Qual acredita que seja, atualmente, seu maior desafio no cargo?
Dar continuidade ao sucesso que o Polo Jeep vem trilhando. Nesse momento de pandemia, nossa prioridade é a segurança de nossos colaboradores e suas famílias. Vamos continuar com o desenvolvimento dos nossos talentos e seguiremos avançando.