Preço dos materiais de construção trará impactos Reflexos deverão ser sentidos pelas construtoras, com a elevação dos custos das construções, e pelos consumidores, que terão a alta repassada no imóvel

Luciana Morosini
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Publicação: 21/09/2020 03:00

Não só os produtos da cesta básica tiveram uma alta nos preços durante a pandemia, movimento semelhante é apontado também para os materiais de construção. Segundo a pesquisa Custo Unitário Básico (CUB-PE), desenvolvida pelo Sinduscon-PE, dos 25 materiais que compõem o lote básico, 15 sofreram aumento no valor no acumulado deste ano, entre janeiro e agosto. Os impactos serão sentidos para os dois lados. As construtoras e incorporadoras terão os custos de construção mais elevados e sentiram ainda mais efeitos as que fazem parte do programa Minha Casa Minha Vida. Além disso, os consumidores também sentirão os reflexos, já que os custos serão repassados ao valor final do imóvel.

O cenário anterior da pandemia, mesmo com aumentos pontuais, naturais do mercado, não contava com altas expressivas. “Tinha um insumo ou outro, mas nada generalizado como se tornou na pandemia”, garante Gildo Vilaça, presidente da Ademi-PE. O maior crescimento do preço no ano em Pernambuco, segundo a pesquisa, foi do aço CA-50, que teve alta de 39,27%, seguido pelo bloco cerâmico para alvenaria de vedação, com acréscimo de 34,29%. Já o cimento CP-32 e a emulsão asfáltica impermeabilizante sofreram incremento de 23%.

Não existe um fator único para justificar a elevação nos preços. “Existem vários motivos, como o câmbio do dólar e o valor do frete, por exemplo. Neste último, desde a greve dos caminhoneiros, começou a complicar e com a estagnação do mercado vem absorvendo. A pandemia piorou porque o caminhoneiro deixou de fazer frete porque era grupo de risco. Além disso, tem a produtividade das fábricas, que tiveram que criar turnos e isolar grupos”, explica Gildo Vilaça.

Para além desses fatores, outro ponto diz respeito à cadeia de insumos. “Ela se quebrou. O que era importado da China, não estava mais conseguindo entregar porque ela parou de produzir e todo mundo foi gastando o estoque que tinha. Depois, o mundo todo parou, e tudo foi voltando aos poucos. Só que a China não conseguiu produzir o suficiente para repor o que o mundo todo estava demandando. No Brasil, tem a instabilidade do câmbio e demorou a comprar. E todo mundo ficou com medo de comprar de muito porque não sabia como ia ser a demanda diante da pandemia”, pontua o presidente da Ademi-PE. “Com as distorções, quem tinha estoque também acabou vendendo mais caro”, acrescenta.