Crise da chinesa Evergrande pode afundar o Brasil Iminente colapso de gigante da construção tem potencial de derrubar preço de commodities e prejudicar crescimento da economia brasileira

Publicação: 21/09/2021 03:00

A crise do conglomerado da construção civil Evergrande, segunda maior empresa chinesa, deu sinais, ontem, que pode provocar um colapso no mercado financeiro mundial. A gigante enfrenta problemas para enfrentar sua dívida de mais de 300 bilhões de dólares, com juros a pagar esta semana, e os investidores temem uma falência, receio que já provocou queda em bolsas de todo o globo.

A pandemia do novo coronavírus prejudicou o fluxo de caixa da companhia em 2020, e são elevados os riscos de a Evergrande decretar calote e provocar um efeito cascata na segunda economia do planeta, da qual o Brasil é muito dependente. Era o crescimento acelerado da China que vinha sustentando os preços das commodities agrícolas e minerais exportadas pelo Brasil. Se o valor dessas mercadorias despencar, a economia brasileira, que já está fragilizada pelas tensões políticas e fiscais, vai afundar. O estrago por aqui não ficará restrito à bolsa e prejudicará o próprio crescimento econômico do país.

De acordo com a economista Catharina Sacerdote, consultora especialista em investimentos, o endividamento é comum no mercado imobiliário, pois é necessário um grande volume para etapas de incorporação e construção, para posteriormente acontecerem as vendas. “A possibilidade de colapso acontece porque o mercado de construção civil, em geral, envolve bancos, material de construção e mão de obra. Dadas as devidas proporções, é bastante parecido com a crise do mercado imobiliário que tivemos no Brasil, mas em uma escala muito maior, tanto porque se trata da China, como por se tratar de uma empresa imensa dentro do país asiático”, comenta.

O tamanho da dívida da Evergrande pode afetar toda a economia global, segundo ela. “A chance de a empresa quebrar é grande, e estamos falando de empréstimos que podem comprometer até mesmo as instituições financeiras do país, impacto entre os vendedores de commodities e nas relações com parceiros comerciais do mundo todo”, completa a consultora financeira.

Para a economista, no Brasil, o principal impacto é comercial. “Um dos principais parceiros comerciais é a China, principalmente na área de commodities. Além de a economia estar enfraquecida, o que faz os investidores externos buscarem países mais sólidos para seus recursos”, observa.

Na avaliação do economista André Braz, da FGV, uma empresa do porte da Evergrande não entra em falência sem uma contrapartida do governo chinês. “Então, o mercado reage rápido a esse tipo de notícia e às vezes opera em prejuízo, mas é a característica do mercado muito volátil. Com uma empresa do porte dela, dificilmente o governo chinês não vai deixar isso acontecer. Eles vão entrar com algum tipo de socorro, intervenção”, aposta.

ESTADOS UNIDOS

A Bolsa de Nova York fechou em forte queda, uma de suas piores sessões do ano, afetada pelas preocupações com o setor imobiliário na China. O índice Dow Jones registrou, assim, um tombo de 1,78%, enquanto o tecnológico Nasdaq recuou 2,19%. A Casa Branca tentou reduzir os temores: “trata-se de uma empresa cujas atividades estão sobretudo concentradas na China”, afirmou a porta-voz, Jen Psaki. (Correio Braziliense e AFP)