Empresários se unem por Pernambuco Movimento Atitude Pernambuco tem como proposta priorizar questões que levem ao desenvolvimento do estado e à melhoria da qualidade de vida

PAULA LOSADA E LUCIANA MOROSINI
economi@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 25/09/2021 03:00

Quando um grupo de empresários se junta, é para tratar de seus próprios interesses, correto? Nem sempre. O Movimento Atitude Pernambuco tem como objetivo atuar em questões que beneficiem o estado e a sociedade como um todo. São 24 grandes empresários de diversos setores, como serviços, indústria, comércio, saúde e seguros,  mas que trabalham não apenas por uma atividade econômica. O objetivo é incentivar e dar continuidade a projetos que tragam benefícios para o estado. A proposta do grupo é ser apartidário para que consiga dialogar com os governos federal, estadual e municipal, e trazer melhores respostas e resultados. Afinal de contas, políticos passam, projetos não. A política do Movimento Atitude Pernambuco, no caso, é de desenvolvimento. Nesta entrevista, Guilherme Ferreira da Costa, presidente do conselho do Atitude Pernambuco, fala sobre a proposta do grupo multissetorial, de ações já realizadas, de incentivos a obras estruturantes, sobre o pilar da educação e expectativas para o futuro.

Entrevista - Guilherme Ferreira da Costa // empresário
 
Proposta
Nosso grupo surgiu da reunião de alguns empresários ao sentir a necessidade de ter um olhar diferente para o estado e colaborar para manter uma continuidade das ações que podem transformar e melhorar o ambiente que a gente vive.  A sociedade civil deve se mexer um pouco e não deixar tudo a cargo do ambiente político. Os políticos estão aí, depois saem e mudam as prioridades. Já o cenário econômico é de quem está nele e vai continuar. Quem vive o ambiente econômico tem uma visão diferente das prioridades, e devemos manter uma continuidade das ações que podem efetivamente transformar o estado e o ambiente que a gente vive.

Representatividade
Nosso grupo tem representantes dos mais variados setores, de serviços, indústria, comércio, saúde, seguros, e ninguém está preocupado com o seu setor exclusivamente, está preocupado com um todo. Não é uma federação segmentada, ninguém está pedindo nada para o seu setor. Estamos trabalhando como um todo para todos.  

Ações
Nossas reuniões têm analisado onde podemos trabalhar e o que podemos fazer para melhorar. Realizamos ações importantes durante a pandemia. No início, nos juntamos com a sociedade civil e compramos 158 máquinas de respiradores quando não havia disponível no mercado, conseguimos porque nos antecipamos. Fizemos uma doação para o Hospital Alpha com parte do dinheiro. Também compramos máscara 3M a um terço do preço na época.

Antes disso, quando aconteceu o vazamento de óleo no litoral, compramos EPIs, temos uma velocidade de ação grande. Já fizemos campanha de doação de cestas básicas, arrecadamos 120 mil unidades para distribuir em Pernambuco, na capital e no interior. Depois mais 20 mil cestas básicas.

Arco
Fizemos um trabalho para a retomada do Arco Metropolitano e financiamos o estudo do projeto de um novo traçado, com impactos ambientais reduzidos, para o estado, que deu o reinício do processo licitatório. Entendemos a urgência e necessidade econômica desse traçado para Pernambuco. O traçado do estudo vem por trás, por Aldeia, e pega uma parte menor de mata. Somos a favor que haja o menor impacto ambiental possível. E, se tiver, que haja compensação ambiental. Não só a mitigação de ordem financeira para quem tiver que ser desapropriado. Isso é do nosso DNA no grupo, temos preocupação grande com sustentabilidade e questões sociais.

Meio ambiente
O movimento consegue estabelecer um diálogo com grupos ambientalistas que nem sempre o estado consegue. Termina sendo mais eficaz com outros segmentos da sociedade. Existe um conflito que o estado é a favor e os ambientalistas são contra. Mas a sociedade é a favor, inclusive movimentos ambientalistas e o diálogo não está acontecendo. A gente consegue sentar na mesa, tratar do assunto e cobrar do estado as responsabilidades. Vamos lutar juntos para a melhor solução ambiental e para que ela seja feita.  

Suape
Do ponto de vista do apartidarismo da natureza das empresas do Atitude Pernambuco, a gente conversa com todos os governos e consegue promover os encontros que a política afasta. A gente consegue conversar com governo federal e estadual e cobrar dos dois. Conseguimos dar prioridade aos nossos interesses, dar continuidade aos projetos. Discutimos em Brasília a devolução da autonomia de Suape, perdida no governo de Dilma. Não tem sentido. O porto quer se tornar um terminal de uso privativo, mas trava na pauta do governo federal que não permite que ocorra. Temos o melhor porto do Norte/Nordeste e estamos perdendo investimento privado.

Transnordestina
Fomos a Brasília conversar com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, sobre a Transnordestina em outubro do ano passado. Na ocasião, ele falou das dificuldades e foi quando surgiu essa movimentação política que aparentemente estamos tendo um avanço positivo agora. O presidente (Jair Bolsonaro) esteve aqui no Recife e tivemos oportunidade de voltar a falar com ele sobre isso. O Governo de Pernambuco também trabalhou nisso. Agora a Transnordestina conseguiu novo empreendedor e finalmente o ramal Suape deverá ser implantado.

PE-60

O Movimento Atitude Pernambuco tem atuado para conseguir recursos federais para o projeto estadual de requalificar a PE-60. O fluxo turístico é muito grande para o Litoral Sul. Maragogi (em Alagoas) agora está implementando um aeroporto na divisa com Pernambuco. Precisamos nos mexer. Já existe projeto de requalificação, mas tem que ver como pode viabilizar.

Escola
A Escola de Sargentos das Armas é um investimento enorme que possivelmente vai ser feito em Pernambuco. Eram 16 cidades no Brasil disputando, caiu para seis, para três e agora me parece para duas e Pernambuco tem possibilidade de ser a sede. No dia 3 (de setembro) houve a transferência no Comando Militar do Nordeste, com a presença do presidente Bolsonaro, e estivemos com o comandante geral do Exército, Paulo Sérgio Oliveira. Conversei com o presidente e pedi que visse a possibilidade porque a Escola de Sargento das Armas é fundamental para Pernambuco e para o Nordeste porque ainda não tem uma escola desse nível na região, tem no Sul. O presidente disse que a decisão já estava feita, mas não revelou nada. Em conversas, soubemos que a possibilidade é muito forte. Desde que esse assunto ganhou relevância, nos mobilizamos para trazer esse investimento. Houve mobilização também da nossa classe política. São 10 mil pessoas a mais entre professores e familiares e ainda os que vêm para estudar. O que vai gerar de renda e emprego no estado é fantástico. Essa escola também impacta de forma positiva o local onde ela está. Não é mérito só nosso, mas estamos apoiando esse processo. Pernambuco é o berço do Exército brasileiro.

Reformas
Estamos vivendo um momento delicado no país, a gente precisa de uma reforma tributária, não pode ficar do jeito que está. Mas antes tinha que ter uma reforma administrativa para reduzir os custos. Aí faz uma reforma tributária que caiba na conta. Nós já temos uma das cargas tributárias mais altas do mundo e não é o empresário que paga isso, quem paga é o consumidor e hoje, mais do que tudo, é o consumidor de baixa renda. Porque ele paga na comida. Para o assalariado, a comida representa quase 100% do salário. A carga tributária que temos não tem sentido. Não podemos apoiar uma reforma que não é reforma, é aumento de carga. É o que estamos sentindo nos nossos números e o que os tributaristas estão dizendo. Estou desesperançoso que a gente venha a ter uma reforma tributária que venha a simplificar. Se não pode baixar a carga, que pelo menos simplifique. É impossível as empresas trabalharem com o manicômio tributário que a gente vive agora.

Preços
Se houvesse a parada dos caminhoneiros, ia encarecer ainda mais os preços. Estamos vivendo um período difícil e não é culpa apenas do dólar. Estamos vivendo um momento de carência mundial. A China é grande responsável. Na verdade, todo mundo é porque deixou a China produzir porque era mais barato e deixou de ter sua própria indústria. A China agora está mandando na produção de milhares de produtos. O mundo inteiro está tendo inflação, houve uma mudança de comportamento das pessoas. Os preços dos imóveis estão mais caros nos Estados Unidos e Europa também porque, com a pandemia, as pessoas ficaram mais em casa e valorizaram mais esse espaço. O consumidor de 2019 não é o mesmo de 2021. Não pode só culpar Bolsonaro por isso. E somos beneficiados. O Brasil é grande celeiro de produção de alimentos, estamos exportando muito. Mas a gente importa comida e tem que importar produtos básicos manufaturados. Tem que ter reformulação na indústria do Brasil. Não se deve taxar a produção, não deve ter o IPI. Não tem sentido cobrar imposto sobre emprego para não desestimular o emprego.  Então, a reforma tem que ser feita, mas não anda no Brasil.

Lideranças
Um dos nossos pilares é exatamente o desenvolvimento e criação de novas lideranças empresariais porque o governo não gera emprego, gera despesa. Quem gera emprego são os empreendedores, que arriscam o capital, suor, seu tempo. Para isso defendemos que temos que aumentar o volume de pessoas com educação para ter a capacidade de ser um bom funcionário ou empresário de qualquer atividade que ele queira gerar. Às empresas privadas segue a responsabilidade de desenvolver o país. Nossa perspectiva de desenvolver novas lideranças tem o intuito de criar novas oportunidades, delas multiplicarem os empregos. Se a liderança estiver preparada para montar um negócio, vai conseguir gerar empregos. Nosso objetivo é manter empresas que já estão e criar novas, incentivando novos líderes. Fizemos uma parceria com o Instituto de Formação de Líderes (IFL), estamos formando a primeira turma com 25 pessoas. O programa de formação é de 18 meses e tem até 36 meses para concluir, o movimento precisa se engajar em ações e tomar atitudes de protagonismo na sociedade.

Educação
O Movimento Atitude Pernambuco entende que temos que trabalhar pela educação. Se não houver uma melhoria, o Brasil não vai crescer. Esse é um dos nossos pilares. Temos no grupo um craque em educação no Brasil, Marcos Magalhães, que tem uma visão fantástica. Graças a ele, Pernambuco hoje tem 600 escolas integrais no ensino médio. Mas o estado falhou porque não trabalhou na escola do ensino fundamental. O Ceará incentivou a ter escola integral no município, quando chega no ensino médio, chega melhor preparado. Pernambuco está excepcionalmente bem no nível médio, mas precisa melhorar no fundamental. Pernambuco é referência, mas precisaria que o governo do estado fizesse um trabalho para unificar políticas e métodos para ter qualidade do ensino fundamental e ter melhoria para cima. Pernambuco, Espírito Santo e Ceará são referência. Temos um problema sério no Brasil que é a educação familiar. A maioria não tem condições de dar educação familiar, essa é uma tarefa que está hoje no Brasil sob responsabilidade do professor. Se a criança estiver o tempo todo na escola é melhor. Não estou falando que o país está mal, mas tem muita coisa para melhorar. Poderia ter uma velocidade maior de mudanças pró-ativas em benefício da sociedade como um todo. É aí que o Movimento Atitude Pernambuco entra, buscando coisas que possamos ajudar a melhorar com soluções possíveis para colaborar.

2022

Temos otimismo como pressuposto natural da nossa atividade. O empresário tem dentro dele, faz parte dele, esse sentimento de otimismo, que está sempre tentando melhorar, realizar, produzir. O empresário que não tem esse sentimento se perde muito. Isso é a visão do empresário de uma forma geral. Ele tem a previsão que as coisas vão melhorar e vai lutar. No país, há expectativa de melhoras. Se comparar com 20 anos, a gente vê que melhorou, mas poderia ter melhorado muito mais. Enxergo o Brasil com uma possibilidade de crescimento extraordinária. Temos uma capacidade enorme de produzir e de realizar, precisamos que o governo efetivamente dê um retorno, que se entendam, acabe a polarização e briga de poderes, que cada um assuma seu papel para que as coisas andem no rumo certo, que as reformas sejam feitas como devem ser e o que precisamos é melhorar a qualidade de vida da população.