Inflação sobe, PIB cai e economia sem controle Economistas avaliam que as projeções e as expectativas do mercado se deterioram diante de crises contínuas geradas por representantes do governo

Publicação: 06/12/2021 03:00

A expectativa desta segunda-feira é o novo relatório Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central (BC). Com a mediana das previsões de economistas, o documento pode indicar pela 35ª semana consecutiva o aumento da taxa de inflação deste ano. Na semana passada, a projeção do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2021 bateu os 10,15%, enquanto a previsão de 2022, com 19 subidas consecutivas, alcançou os 5%. Para os economistas, o ritmo acelerado dos índices sinaliza que o governo federal perdeu o controle da economia.

Para 2021, a projeção de 10,15% está bem acima da meta inflacionária estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que seria de 3,75% e o teto de 5,25%. Como a inflação já acumulada em 8,25%, e não há mais possibilidade de o indicador convergir para a meta, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, deverá apresentar carta pública ao ministro da Economia, Paulo Guedes, para explicar as razões do descumprimento do objetivo, e o que fará para evitar que o mesmo aconteça no próximo ano.

Os números previstos para 2022 também são pouco animadores. Os 5% de inflação projetados na semana passada pelos economista fica no limite do teto da meta previsto para o ano, uma vez que a meta definida pelo CNM é de 3,5%. Antes dos 5% a projeção do mercado era de um IPCA de 4,6% para 2022. Hoje, se os economistas vierem a indicar mais uma tendência de alta inflacionária, será a 20ª consecutiva.

A alta constante da inflação vem seguida de expectativas de baixo crescimento para o país. Segundo o Focus, o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer 4,78% neste ano e apenas 0,58% no próximo.

Para o economista Felipe Queiroz, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), as projeções negativas demonstram que o governo perdeu o controle sobre a economia. “O governo vive em uma crise contínua, causada por declarações de seus próprios representantes. Isso faz com que as projeções e as expectativas dos agentes econômicos em relação ao câmbio, principalmente, se deteriorem, gerando uma fuga de capital.”

O dólar americano, parâmetro para importações e exportações, ultrapassou os R$ 5,60. Isso faz com que os produtores elevem o preço de suas mercadorias, piorando o cenário de inflação. “Com a taxa de câmbio desvalorizada, o produtor tem um incentivo muito maior a direcionar sua produção ao mercado externo. Logo ele ajusta o preço do sapato, por exemplo, no mercado local, ao preço do mercado externo”, afirma Queiroz.

Para conter a inflação, o BC aumenta a taxa de juros. O economista julga a medida como equivocada. Segundo ele, esse é um instrumento usado para a chamada “inflação de demanda”, que não seria o caso atual: “Temos 14 milhões de desempregados, índice de miséria e fome aumentando. Não temos demanda aquecida, temos demanda reprimida com falta de emprego. Quando o BC adota essa medida, afeta ainda mais a capacidade de recuperação da economia do país”, disse.

O economista Carlos Alberto Ramos, professor da Universidade de Brasília, afirma que o aumento da inflação é um fenômeno mundial: “Mesmo em países europeus, temos a maior taxa de inflação em quase 30 anos. O problema é deixar que a inflação se torne um problema estrutural, de longo prazo”. Segundo Ramos, a situação se agrava no Brasil, devido ao real desvalorizado.

(Redação com o Correio Braziliense)