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Um olhar sobre o Haiti
Durante uma semana, a repórter Teresa Maia esteve no país mais pobre das Américas, acompanhando os últimos dias da missão de paz que foi liderada pelo Brasil durante 13 anos
Teresa Maia
teresamaia.fotografia@yahoo.com.br
Publicação: 09/09/2017 09:00
Esta não foi minha primeira vez no Haiti. Estive em dezembro do ano passado, numa passagem relâmpago pela ilha. Em ambas as vezes, como enviada especial para fazer a cobertura jornalística da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH), missão de paz que durou de 2004 a 2017 e foi comandada pelo Brasil. Em 2016, voltei frustrada, porque todas as imagens que consegui fazer foram feitas de cima do carro da patrulha. Precisava retornar com mais tempo. Consegui, em agosto deste ano, nos últimos dias da missão.
Peguei um voo comercial, com duas escalas, totalizando 15h30 de viagem. Cheguei em Porto Príncipe e fui direto para a base. Não havia programação para aquele dia, mas minha ansiedade era tanta que terminei conseguindo articular uma saída pouco tempo depois. Parece simples, mas não foi. Por questão de segurança, mesmo tendo adquirido o Clearance (Autorização da ONU) para estar no Haiti, a orientação era não andar sozinha. Sair da base militar, só na companhia do Batalhão Brasileiro de Força de Paz (BRABAT).
Subo no carro da patrulha. Em Porto Príncipe, o trânsito é confuso, tenso. Não existe transporte público. Os “tap taps”, caminhonetes sucateadas coloridas, são o transporte mais utilizado na ilha - elas dominam o espaço. É frequente encontrar muitas motos com 5 e até 6 pessoas. São raros os semáforos, o que justifica o caos na cidade. No trajeto, carros quebrados e abandonados nas ruas contribuem para aumentar os transtornos. Ainda assim, é possível perceber que a presença dos capacetes azuis (como foram chamados os militares brasileiros que fizeram parte da missão) impõem respeito. Existia uma reverência dos haitianos em relação aos brasileiros que lá estavam.
Frantz Saint-Phat é um grande exemplo disso. “Posso dizer que sou fruto do humanismo de cada integrante que conheci nessa missão, principalmente dos soldados brasileiros. Muitos dos garotos que ficavam na cerca comigo, hoje estão no Brasil, outros aqui, estudando e trabalhando”. Frantz é engenheiro civil e está cursando direito. Pra ele, além de ser uma missão para estabelecer a paz, foi uma missão humanitária.
Seguimos pelo centro até chegar em Cité Soleil, área mais pobre e mais violenta da capital. Descemos do carro e logo somos abordados por dezenas de crianças, algumas delas nuas e descalças. Sorriem, tentam se comunicar através de gestos e pequenas palavras em português. Pedem dinheiro, comida. Pedem socorro. Andamos por toda comunidade cercada por meninas e meninos que se misturavam aos porcos e ao lixo. Um colega jornalista de outro veículo foi abordada por uma mãe que insistia em lhe dar seu filho de mais ou menos 4 meses. Um militar que estava do seu lado falou pra que ela não segurasse a criança, porque a mãe iria deixar com ela e iria sair correndo. Impossível não ficar chocada.
Desastres
Ao longo desses 13 anos, a ajuda humanitária foi de grande importância para os que vivem numa terra marcada por tantas catástrofes naturais e doenças, como a cólera, ainda não erradicada, e a Aids. Em 2010, um terremoto provocou uma dos maiores desastres, matando cerca de 300 mil pessoas, incluindo 18 soldados brasileiros. A ilha caribenha tentava se recuperar das consequências dessa tragédia, quando mais uma vez a natureza foi cruel com o país mais pobre das Américas. Em 2016, o furacão Matthew causou mais destruição. Devastou casas e agricultura, deixando o país assolado pela miséria.
Um país de muita pobreza, mas também de muitos contrastes
Na capital do Haiti, Porto Príncipe, as pessoas de melhor poder aquisitivo moram no alto dos morros, longe do mar. O bairro de Pettion Ville, por exemplo, tem algumas mansões. Mas não é só isso. Há menos lixo espalhado e carros importados circulando com tranquilidade nas ruas
Peguei um voo comercial, com duas escalas, totalizando 15h30 de viagem. Cheguei em Porto Príncipe e fui direto para a base. Não havia programação para aquele dia, mas minha ansiedade era tanta que terminei conseguindo articular uma saída pouco tempo depois. Parece simples, mas não foi. Por questão de segurança, mesmo tendo adquirido o Clearance (Autorização da ONU) para estar no Haiti, a orientação era não andar sozinha. Sair da base militar, só na companhia do Batalhão Brasileiro de Força de Paz (BRABAT).
Subo no carro da patrulha. Em Porto Príncipe, o trânsito é confuso, tenso. Não existe transporte público. Os “tap taps”, caminhonetes sucateadas coloridas, são o transporte mais utilizado na ilha - elas dominam o espaço. É frequente encontrar muitas motos com 5 e até 6 pessoas. São raros os semáforos, o que justifica o caos na cidade. No trajeto, carros quebrados e abandonados nas ruas contribuem para aumentar os transtornos. Ainda assim, é possível perceber que a presença dos capacetes azuis (como foram chamados os militares brasileiros que fizeram parte da missão) impõem respeito. Existia uma reverência dos haitianos em relação aos brasileiros que lá estavam.
Frantz Saint-Phat é um grande exemplo disso. “Posso dizer que sou fruto do humanismo de cada integrante que conheci nessa missão, principalmente dos soldados brasileiros. Muitos dos garotos que ficavam na cerca comigo, hoje estão no Brasil, outros aqui, estudando e trabalhando”. Frantz é engenheiro civil e está cursando direito. Pra ele, além de ser uma missão para estabelecer a paz, foi uma missão humanitária.
Seguimos pelo centro até chegar em Cité Soleil, área mais pobre e mais violenta da capital. Descemos do carro e logo somos abordados por dezenas de crianças, algumas delas nuas e descalças. Sorriem, tentam se comunicar através de gestos e pequenas palavras em português. Pedem dinheiro, comida. Pedem socorro. Andamos por toda comunidade cercada por meninas e meninos que se misturavam aos porcos e ao lixo. Um colega jornalista de outro veículo foi abordada por uma mãe que insistia em lhe dar seu filho de mais ou menos 4 meses. Um militar que estava do seu lado falou pra que ela não segurasse a criança, porque a mãe iria deixar com ela e iria sair correndo. Impossível não ficar chocada.
Desastres
Ao longo desses 13 anos, a ajuda humanitária foi de grande importância para os que vivem numa terra marcada por tantas catástrofes naturais e doenças, como a cólera, ainda não erradicada, e a Aids. Em 2010, um terremoto provocou uma dos maiores desastres, matando cerca de 300 mil pessoas, incluindo 18 soldados brasileiros. A ilha caribenha tentava se recuperar das consequências dessa tragédia, quando mais uma vez a natureza foi cruel com o país mais pobre das Américas. Em 2016, o furacão Matthew causou mais destruição. Devastou casas e agricultura, deixando o país assolado pela miséria.
Um país de muita pobreza, mas também de muitos contrastes
Na capital do Haiti, Porto Príncipe, as pessoas de melhor poder aquisitivo moram no alto dos morros, longe do mar. O bairro de Pettion Ville, por exemplo, tem algumas mansões. Mas não é só isso. Há menos lixo espalhado e carros importados circulando com tranquilidade nas ruas