Israel se define como Estado-nação dos judeus Aprovação de projeto lei pelo Parlamento provocou acusações de racismo contra a minoria árabe

Publicação: 20/07/2018 03:00

Jerusalém (AFP) - O Parlamento israelense adotou ontem um projeto de lei que define Israel como um “Estado-nação do povo judeu”, e que provocou acusações de racismo contra a minoria árabe. Adotado por 62 votos contra 55, o texto estipula, entre outras coisas, que o hebreu se torna a única língua oficial de Israel, eliminando o árabe, e afirma que “os assentamentos judeus são de interesse nacional”. Proclama também que Jerusalém é a capital de Israel, excluindo a parte oriental da cidade anexada.

O texto define “o Estado de Israel como o Estado nacional do povo judeu, onde se aplica seu direito natural, cultural, religioso, histórico, assim como seu direito de autodeterminação”.  O artigo mais controvertido - que mencionava a possibilidade de criar localidades exclusivamente reservadas para os judeus, o que excluía os cidadãos árabes israelenses - foi alvo de uma emenda.

Os árabes israelenses são descendentes dos palestinos que ficaram em suas terras depois da criação de Israel em 1948. Representam 17,5% da população do país, majoritariamente judia, e dizem ser vítimas de discriminação. A emenda afirma que o “Estado considera o desenvolvimento das colônias judaicas de interesse nacional e que o Estado adotará as medidas necessárias para promover, avançar e servir a este interesse”.

Desde a criação de Israel, em 1948, não se havia votado qualquer lei sobre línguas oficiais. O hebreu e o árabe eram consideradas línguas quase oficiais, utilizadas em todos os documentos do Estado. Esta versão suscitou severas críticas, especialmente do presidente Reuven Rivlin, do procurador-geral, Avishai Mandelblit, e da delegação da União Europeia em Israel em razão de seu caráter discriminatório. O novo texto entra na categoria de lei fundamental da Constituição de Israel.

O premier Benjamin Netanyahu comemorou o resultado: “é um momento decisivo na história do Estado de Israel, que inscreve no mármore nossa língua, nosso hino e nossa bandeira”.

Mas o novo artigo, mais impreciso, recebeu fortes críticas da oposição. O deputado árabe Ayman Odeh falou na tribuna sobre “a morte de nossa democracia”. Outro deputado árabe, Yussef Jabareen, afirmou que esta lei incentiva “não apenas a discriminação como também o racismo e perpetua o estatuto de inferioridade dos árabes em Israel”. Já o deputado do Likud - o partido de Netanyahu -, Avi Dichter disse aos deputados árabes: “Vocês não estavam aqui antes de nós e não estarão aqui depois de nós. Aprovamos esta lei fundamental para impedir a mínima vontade, ou tentativa, de transformar o Estado de Israel em uma nação para todos seus cidadãos”.
 
Palestino é morto em ataque aéreo
 
Gaza (AFP) - Um palestino morreu ontem em um ataque aéreo israelense na Faixa de Gaza, informou o ministério da Saúde palestino. Israel informou que sua aviação atacou um grupo que lançava balões incendiários através de pipas. Segundo um membro da família da vítima, ela trabalhava na polícia de fronteira. Outras três pessoas ficaram feridas no ataque.

Israel endureceu sua resposta contra os palestinos que, há meses, usam pipas incendiárias para atacar o território israelense, o que provoca grandes danos ao setor agrícola.

No final de semana passado, ocorreu o pior confronto entre Israel e o grupo islamita Hamas, que controla a Faixa de Gaza desde a guerra de 2014.