FURACãO MARIA » Trump duvida de número de mortes em Porto Rico

Publicação: 14/09/2018 03:00

Washington (AFP) - O presidente norte-americano, Donald Trump, negou ontem o boletim oficial de quase 3 mil mortos na passagem do furacão Maria por Porto Rico, há um ano, afirmando que o número foi inflado pelos democratas para prejudicá-lo, provocando indignação na ilha e crítica, inclusive, no seu partido. “3.000 pessoas não morreram nos dois furacões que atingiram Porto Rico. Quando eu deixei a ilha, DEPOIS que a tempestade a tinha atingido, havia entre seis e 18 mortos”, tuitou Trump.

O governo de Porto Rico elevou há duas semanas o balanço de vítimas fatais do furacão de 64 para 2.975. “À medida que o tempo foi passando, não subiu muito. Depois, muito tempo depois, então começaram a informar números realmente muito altos, como 3.000”, destacou Trump. “Isto foi feito pelos democratas para me fazer ficar o pior possível quando eu estava arrecadando com sucesso bilhões de dólares para ajudar a reconstruir Porto Rico”, completou.

A prefeita de San Juan, Yulín Cruz, a quem na quarta-feira Trump chamou de “incompetente”, respondeu em duros termos ao questionamento dos números. “Negar nossos mortos não tem perdão”, escreveu no Twitter. “Maldito seja, isso não se trata de política, sempre foi uma questão de SALVAR VIDAS!”.

O governador da ilha, Ricardo Rosselló, denunciou que os porto-riquenhos são tratados como “cidadãos de segunda classe”. “Eu tenho que dizer que nem o povo de Porto Rico nem as vítimas merecem que sua dor seja questionada”, declarou em entrevista à CBSN. “O momento não é de brigar, de fazer barulho político, usar esse tipo de coisa para tirar vantagem”, indicou em um comunicado.

“Precisos”
O presidente norte-americano recebeu, inclusive, críticas do próprio partido. “Como pode ser tão egocêntrico e tentar distorcer tanto a verdade?” - questionou a veterana congressista republicana Ileana Ros-Lehtinen, representante da Flórida. A parlamentar de origem cubana declarou que Trump “tem uma mente distorcida para converter as estatísticas em notícias falsas”.

A Universidade George Washington, que realizou a pesquisa independente que revelou a cifra de 2.975 mortes, defendeu as suas cifras e disse que “é a estimativa mais precisa e menos tendenciosa” que existe até o momento. Chuck Schumer, líder da minoria no Senado, afirmou que o presidente deve uma desculpa às 3.000 famílias “pelos vergonhosos ataques contra americanos mortos”.

O senador democrata Bob Menéndez também saiu em defesa das vítimas: “O presidente Trump brinca com a dor de nossos compatriotas em Porto Rico e continua a desprezá-los”.

O parlamentar democrata Steny Hoyer também criticou Trump: “Os tuítes dessa manhã do presidente Trump negando o número oficial de mortos pelos furacões Irma e Maria são incompreensíveis e profundamente ofensivos às milhares de famílias americanas que perderam seus entes queridos. “Que vergonha!”, acrescentou.

Esta semana, no momento em que o furacão Florence se aproxima da costa leste dos Estados Unidos, o presidente norte-americano felicitou seu governo pela resposta “incrível” à emergência do furacão Maria no ano passado.

Durante as semanas que se seguiram ao furacão de 20 de setembro de 2017, Trump foi muito criticado por sua falta de ação diante do desastre generalizado na ilha, que ficou sem telecomunicações por semanas e sem energia elétrica em grande parte de seu território por meses.

Florence
O furacão Florence começou a atingir ontem a costa leste dos Estados Unidos com ventos e chuvas torrenciais, que, segundo as previsões, podem causar alagamentos catastróficos, apesar de a tempestade ter caído para a categoria 2. “Só porque a velocidade do vento diminuiu, a intensidade da tempestade baixou para dois, por favor não baixem a guarda”, advertiu Brock Long, diretor federal da Agência Federal para o Manejo de Emergências (FEMA).

A enorme tempestade enfraqueceu durante a noite para a categoria 2 de 5 na escala Saffir-Simpson, mas as autoridades advertiram dos riscos dos potentes ventos de 165 km/h e as chuvas torrenciais.