Além do fogo devastador, a fumaça Continua busca de vítimas de incêndios na Califórnia e fumaça se espalha, preocupando autoridades devido à contaminação

Publicação: 17/11/2018 03:00

São Francisco (AFP) - As autoridades de São Francisco emitiram nesta sexta-feira um alerta de contaminação do ar pela fumaça provocada pelo enorme incêndio que há uma semana começou no norte da Califórnia e que deixou ao menos 63 mortos e mais de 600 desaparecidos. Várias centenas de quilômetros ao sul, perto de Los Angeles, outro incêndio acabou com a vida de ao mês de três pessoas.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, viajará para a Califórnia neste sábado, onde irá se reunir com as vítimas do ocorrido.

O incêndio “Camp Fire”, que começou na quinta-feira da semana passada perto da pequena cidade de Paradise, devastou cerca de 57.500 hectares e a fumaça gerada se deslocou para o sul, chegando a San Francisco, a mais de 200 quilômetros ao sul de Paradise.

As escolas públicas permanecem fechadas e, a pedido da prefeita London Breed, o transporte público é gratuito na cidade. Os voos no aeroporto internacional de São Francisco também foram afetados devido à visibilidade reduzida.

A qualidade do ar piorou na quinta-feira até alcançar um nível considerado “muito pouco saudável”, disseram as autoridades de Saúde da cidade. Moradores publicaram fotos nas redes sociais da famosa ponte Golden Gate, vista com dificuldade em uma atmosfera carregada de partículas.

O balanço do incêndio “Camp Fire”, que já é o mais letal na história deste estado da costa oeste americana, subiu na quinta-feira para 63 mortos, enquanto o número de desaparecidos passou de 300 para 631. “Quero que entendam o caos excepcional que enfrentamos”, disse em uma entrevista coletiva o xerife do condado de Butte, Kory Honea, para justificar o brutal aumento do número de vítimas.

Segundo explicou Honea anteriormente, algumas das pessoas que foram reportadas desaparecidos podem ter sido abrigadas por familiares ou amigos, mas outras podem ter morrido no incêndio.

Os centros de ajuda se concentram ao redor de Paradise, cidade popular entre os aposentados e que ficou destruída pelo fogo. No total, 461 socorristas, auxiliados por 22 cães especializados na busca de restos mortais humanos, estão percorrendo cada casa na devastada cidade.

As autoridades ligaram para familiares de moradores desaparecidos a fim de fornecerem amostras de DNA para ajudar a identificar alguns corpos encontrados. Em Paradise, Jhonathan Clark busca nos restos da casa o seu irmão adotivo Maurice, que não deu sinal de vida desde o incêndio. “O meu pai está começando a perder as esperanças; sabe que Maurice não desapareceria da face da Terrra sem dizer nada a ninguém”, disse à AFP. “Continuarei procurando e esperando que tudo corra bem”, disse.

A oeste de Los Angeles a situação melhorou nesta sexta-feira e o incêndio “Woolsey” estava contido em 70% depois de ter devastado cerca de 40.000 hectares. Os bombeiros esperam extinguir o fogo até segunda-feira. Este incêndio começou na quinta-feira passada perto de Thousand Oaks e o fogo se propagou rapidamente alcançando a famosa localidade de Malibu.

A origem dos incêndios ainda não foi identificada, mas várias vítimas do “Camp Fire” apresentaram uma queixa contra o fornecer local de energia elétrica Pacific Gas & Electric (PG&E), afirmando que as faíscas em uma linha de alta voltagem desencadearam o fogo.
 
Moradias improvisadas no Walmart
 
Chico (AFP) - Mais de 100 barracas alinhadas no estacionamento de um Walmart formam um acampamento improvisado para os desabrigados pelo incêndio letal na região norte da Califórnia. Dustin Kimball, 44 anos, perdeu tudo e agora vive com quatro parentes em uma pequena barraca, enquanto tenta retomar sua rotina, destruída pelo “Camp Fire”, que deixou mais de 60 mortos na cidade de Paradise e seus arredores.

Depois de abandonar sua residência em Magalia, a menos de 10 km de Paradise, Kimball seguiu para Sacramento, capital do estado da Califórnia. Ao retornar, ele só conseguiu chegar a Chico, perto da cidade em que morava e que as autoridades mantém isolada. “Na semana passada, estava trabalhando no cemitério de Paradise, tinha um bom emprego e tudo estava bem. Minha vida estava começando a melhorar. E aí veio o incêndio e tudo veio abaixo”, declarou.

“Estou tentando me estabilizar o suficiente para voltar a trabalhar”, completa. Mas, apesar da empresa que administra o cemitério ter informado que seu emprego está garantido, as autoridades ainda não anunciaram quando os moradores poderão voltar à cidade para conferir se suas casas permanecem de pé.

Diante da tragédia, Kimball pensa no dia a dia. Ele está preocupado com as noites frias em Chico. A primeira noite foi terrível, conta. Meias, cobertores, casacos: nada foi suficiente. Sua tia Karen Frugé, 60 anos, optou por dormir no carro com o marido por causa do aquecedor. No segundo dia, Kimball conseguiu um aquecedor portátil e a família comemorou a notícia. Ao lado do acampamento foi estabelecida uma área para distribuição de comida, água, máscaras e artigos de higiene de forma gratuita. As pessoas também apresentam os nomes de parentes desaparecidos, que devem ser adicionados à lista oficial.

Com carrinhos de compra, as pessoas montam guarda-roupas improvisados com as peças que conseguem entre pilhas de camisas, calças e sapatos. A voluntária Cathryn Flores afirmou que o local recebeu tantas roupas que as doações foram suspensas.

Enquanto alguns tentam manter o otimismo, nem todos pensam em retornar a Paradise. Este é o caso do pastor Larry Davis, 63 anos. “Quando você perde tudo nesta fase da vida, a reconstrução é um processo que leva tempo, nos restam poucos anos de vida para começar do zero. Provavelmente vamos apenas nos mudar”. Ao seu lado está Carol Hansford, 83 anos, que ficou doente depois de chegar a um abrigo. Os dois têm a sorte de ter onde passar a noite, longe do frio do acampamento.

Como muitos, eles concordam que foi um milagre escapar das chamas.