Derrota na Câmara ameaça Trump Após comparecimento recorde, depois de oito anos os democratas retomaram o controle da Câmara dos Deputados nas eleições legislativas dos EUA

Publicação: 08/11/2018 03:00

Com o controle dos deputados nas mãos, os democratas poderão travar a agenda do presidente e impulsionar investigações contra ele na metade final do seu mandato. A perda da maioria na Câmara, no entanto, era esperada. Na noite de terça-feira, os democratas tomaram dos republicanos cerca de 27 cadeiras - o número final ainda não está consolidado. O resultado, porém, frustrou o que se esperava de uma grande “onda azul”, já que os republicanos também obtiveram vitórias importantes.

Para o presidente, a má notícia foi ter perdido eleitores importantes no chamado Cinturão da Ferrugem, com os democratas ganhando os governos estaduais em Michigan, Pensilvânia e Wisconsin. A área foi crucial para a eleição do republicano em 2016 e é um mau sinal para o presidente na disputa de 2020.

“Não foi uma noite ruim para os democratas, pelo contrário. Mas também não foi a ‘onda azul’ que se esperava há dois ou três meses”, afirma Gary Nordlinger, professor da George Washington University.  Segundo ele, os republicanos se animaram a votar nas eleições de terça-feira por várias razões, entre elas o discurso de Trump contrário à caravana de imigrantes da América Central que caminha pelo México em direção à fronteira americana.

O comparecimento nas urnas foi recorde. Ao redor de 114 milhões de americanos votaram na terça-feira - bem mais do que os 83 milhões nas eleições legislativas de 2014, segundo estimativas do jornal The New York Times. Em uma rara coletiva com jornalistas ontem, Trump comemorou a maioria no Senado como uma “grande vitória”.

Se por um lado o presidente não foi tão mal para alguém com alta rejeição, por outro também não evitou a perda da Câmara dos Deputados, mesmo no momento em que a economia está aquecida e as taxas de desemprego são as mais baixas em 17 anos.

“Extraordinário ver que o presidente perdeu tantas cadeiras durante um período de economia tão forte (pelo qual ele é parcialmente responsável)”, escreveu Ian Bremmer, fundador e presidente do Eurasia Group no Twitter. Daqui até 2020, a previsão é de que a oposição na Câmara dos deputados atrapalhe o dia a dia de Trump em debates que estão no centro de sua plataforma eleitoral, como a questão da imigração.

Louis Caldera, professor da American University, afirma que a tensão nas relações com os democratas é parte da plataforma política de Trump. “No início, todos falam que vão tentar trabalhar juntos. No entanto, a abordagem de Trump não é de negociar, mas sim de exigir apoio”.

Na coletiva, Trump disse que gostaria de trabalhar com os democratas que se elegeram para a Câmara dos Deputados, mas depois ameaçou retaliações, caso a oposição use a maioria para investigá-lo.