Mais perto do "sonho americano" Pequeno grupo de migrantes chega ao muro que divide o México dos Estados Unidos, enquanto a maior parte da caravana acelera o passo

Publicação: 15/11/2018 03:00

Tijuana (AFP) - A caravana migrante que saiu há um mês de Honduras acelerava vertiginosamente o seu passo ontem, com milhares de centro-americanos que passaram a noite em ônibus na estrada do desértico noroeste do México, apressados para chegar aos Estados Unidos. Grupos reduzidos de migrantes começaram a chegar nos últimos dias à cidade mexicana de Tijuana, fronteiriça com a americana San Diego.

Um grupo de quase 100 transexuais e alguns homossexuais chegou a essa cidade da Baja California no domingo e, na terça-feira, chegaram outros 350 migrantes, todos integrantes da grande caravana. Emocionados, correram até a praia para tomar um banho e colocavam a cabeça entre as grades metálicas da fronteira para vislumbrar seu sonho dourado.

Enquanto isso, o grosso da caravana que saiu em 13 de outubro da cidade hondurenha de San Pedro Sula acelerava o passo pelo estado de Sinaloa. Pela primeira vez desde que começaram seu périplo, os migrantes não passaram a noite de terça-feira em um acampamento.

Após ultrapassarem muitos obstáculos, chegaram no entardecer de terça-feira à guarita da estrada de La Concha, em Sinaloa, onde existe um grande estacionamento para os trailers que passam.

Esse espaço, com banheiros e luz elétrica, poderia servir de acampamento, mas os migrantes preferiram enfrentar o intenso frio noturno desta região do México, com forte presença do narcotráfico, para continuar sua rota ao norte. 

Próxima escala: Navojoa, em Sonora, um vasto estado fronteiriço com os Estados Unidos.

“Queremos chegar o quanto antes, o mais rápido possível, estamos há mais de um mês fora do nosso país”, disse à AFP Saúl Rivera, salvadorenho de 40 anos, um dos primeiros a chegar a La Concha e que conseguiu subir em um dos muitos ônibus oferecidos por um sacerdote ativista.

Orquestrando a complicada logística da operação junto com a polícia local, o sacerdote Miguel Ángel Soto assegurou que o trajeto até Navojoa, de mais de nove horas de estrada, é “o mais longo que empreendeu de ônibus” desde que a caravana foi formada.

E o religioso comentou que todos querem chegar a Tijuana: “Quando mencionamos a palavra Tijuana é uma euforia para eles”. 

Com o braço dormente de tanto segurar seu bebê, a hondurenha Lilian Canales faz uma previsão enquanto aguarda um ônibus: “Vamos chegar antes do que imaginamos!”. “O que queremos é chegar lá, descansar e ver o que Deus tem preparado para as nossas vidas”, diz a mulher de 23 anos. “Nem imagino o que vai acontecer, mas o que penso é que não posso me separar do meu bebê”, como tantas famílias migrantes tiveram que fazer ao serem pegas pela patrulha fronteiriça americana.

Assim, depois de percorrer cerca de 2.500 quilômetros de Honduras, os migrantes acordaram nesta quarta-feira nos ônibus que saíram durante toda a noite de La Concha. 
 
Para Trump, são “criminosos” 

Com a iminente chegada da caravana, os Estados Unidos fecharam parcialmente com barricadas e cercas de arame farpado as guaritas fronteiriças de San Ysidro e Otay Mesa, que levam à Califórnia. 

Em 9 de novembro, o presidente Donald Trump decretou o fim dos pedidos de refúgio para os que entram ilegalmente nos Estados Unidos, em uma tentativa de dissuadir os centro-americanos que buscam seu sonho americano para escapar da pobreza e da violência em seus países. “Temos informações sobre isso, mas viemos na luta (...) Trump pode colocar o que quiser, mas para Deus não há obstáculos, nem para nós”, desafiou Rivera, que em abril trabalhava como pedreiro e motorista em seu país. 

Apesar de sua fé, o sacerdote Soto é menos otimista: “Vão determinados, mas não vão passar. Será feito um afunilamento em Tijuana, e não estão preparados para receber tantas pessoas”.

Trump chamou os migrantes de “criminosos” e acusa a caravana de impulsionar uma “invasão”. Para contê-los, enviou até 9 mil soldados para sua fronteira sul.

Victor de Leon, um migrante guatemalteco que já está em Tijuana, disse que “99% são pessoas de bem, e estamos esperando para fazer as coisas em paz, que Donald Trump se dê conta da necessidade real que temos, que não estamos vindo para prejudicar. Mas para encontrar uma oportunidade que nossos países negaram”. Enquanto isso, Rivera destacou que “o que queremos é trabalhar. Roubar, não”.

Para este pai que já tentou atravessar a fronteira 10 vezes, “os Estados Unidos estão bem porque os gringos diretamente não gostam de trabalhar, a mão de obra é nossa”, dos latinos. 

A caravana chegou a somar 7 mil integrantes, segundo as Nações Unidas, mas muitos desistiram durante o caminho, até atingir os 6.011 (dos quais 902 são crianças) que chegaram a Guadalajara, segundo dados das autoridades locais. 

Além dos hondurenhos, juntaram-se migrantes de Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, México, Nicarágua, Panamá, Peru e Venezuela. Esta grande caravana é seguida por outras duas à distância, com cerca de 2.000 migrantes cada.