Mesmo após concessão, protestos se espalham Após ceder em alguns pontos, Macron pede calma aos manifestantes, que insistem em novos protestos

Publicação: 06/12/2018 03:00

Paris (AFP) - O presidente francês, Emmanuel Macron, pediu às forças políticas e sindicais ontem para lançarem um “apelo à calma” com o objetivo de desmobilizar os protestos contra o governo que varrem o país. O governo quer evitar a todo custo que se repitam as cenas de caos do fim de semana passado, quando milhares de manifestantes tomaram o Arco do Triunfo, montaram barricadas no coração de Paris e atearam fogo em veículos, diante do olhar incrédulo de moradores e turistas.

“O momento que vivemos já não é o da oposição política”, disse o porta-voz do governo, Benjamin Griveaux, citando Macron. “O presidente pediu às forças políticas, sindicais e patronais que lancem um chamado claro e explícito à calma”, acrescentou. “A segurança dos franceses e nossas instituições estão em jogo”, afirmou o primeiro-ministro, Edouard Philippe, em discurso ante a Assembleia Nacional.

O Executivo cancelou todas as elevações do imposto sobre os combustíveis previstas para 2019, informou ontem o ministro da Ecologia, François de Rugy. “As altas do imposto sobre os combustíveis previstas para a partir de 1º de janeiro estão suspensas no ano de 2019 em sua totalidade”, disse François de Rugy

Há três semanas, a França vive protestos convocados pelo movimento popular “coletes amarelos”, que começou com um protesto contra a alta do imposto sobre combustíveis e, agora, reflete uma insatisfação social mais ampla.

Os protestos começam a se estender para outras categorias. Vários colégios de Ensino Médio estavam bloqueados ontem, pelo terceiro dia consecutivo, em uma mobilização contra a reforma educacional do governo. Além disso, os sindicatos estudantis convocaram a intensificação das greves para hoje. Os agricultores se somaram ao movimento, e o principal sindicato do setor anunciou uma série de paralisações para a próxima semana em todo país.

Na terça, o Executivo anunciou a suspensão de uma alta dos combustíveis, assim como o congelamento dos preços do gás e da energia elétrica para tentar apaziguar os ânimos. É a primeira vez que Macron recua em seu ambicioso plano de reformas, diante da pressão das ruas. Estas medidas parecem insuficientes, porém, para a maioria dos manifestantes.

Éric Drouet, um porta-voz dos “coletes amarelos”, convocou os franceses a se reunirem no sábado “perto dos lugares de poder: Champs-Élysées, Arco do Triunfo, ou Place de la Concorde”, em frente à Assembleia Nacional.

Ontem, o Executivo parecia disposto a ceder ainda mais. Griveaux entreabriu a porta para um possível restabelecimento do Imposto sobre Fortuna (ISF), uma das reivindicações mais frequentes dos manifestantes. “Se algo não funciona, não somos idiotas, mudaremos”, declarou Griveaux em entrevista à rádio RTL.

Este imposto foi reduzido pelo presidente no ano passado para evitar que as grandes fortunas deixassem o país e serviu para a oposição rotular Macron de “presidente dos ricos”. Contudo, horas depois, Macron garantiu ao conselho de ministros que não quer “desfazer nada que foi feito nos últimos 18 meses”, afirmou o Eliseu à AFP.