Relações internacionais

por Thales Castro

Publicação: 09/01/2019 03:00

O Brasil e a agenda internacional em 2019
 
Inaugurando aqui no Diario de Pernambuco nossa honrosa coluna semanal Relações Internacionais, venho traçar linhas gerais de expectativas em 2019 para a política externa e a inserção internacional do Brasil com o novo presidente Bolsonaro e seu chanceler, o embaixador Ernesto Araújo. Já podemos visualizar algumas destas linhas mestras de ação internacional, mesmo com a fala truncada greco-latina-tupi na posse do ministro Araújo, porém com visões estratégicas para o Brasil do futuro. Visualizo oportunidades valiosas, com alguns riscos, para a nação neste contexto.

Desta forma, diria que temos três grandes oportunidades – disfarçadas de desafios – para o Itamaraty, à guisa de perspectiva para este ano: primeiramente, conseguir, com êxito, implementar ações concretas na nova cruzada engendrada contra o globalismo por parte do ministro das Relações Exteriores. É necessário, contudo, separar e diferenciar globalismo e globalização. Como todo termo ismo enseja, globalismo é o arcabouço sistemático de pautas e agendas em prol da relativização da soberania estatal, do apagamento das fronteiras geopolíticas, da permissão descontrolada da imigração transnacional, da promoção de pontos específicos dos ODS da ONU (postura pró aborto, por exemplo) e, sobretudo, da diluição gradativa da herança judaico-cristã ocidental dos países. Assim, nova trincheira nacionalista se apresenta contra o globalismo no MRE.

O segundo grande desafio está na capacidade de o “novo Itamaraty” promover o liberalismo da agenda de Paulo Guedes, traduzindo-o para o campo econômico-comercial externo sobretudo no campo bilateral (país por país). A mudança da embaixada brasileira de Telavive para Jerusalém deve mesmo ocorrer, trazendo potenciais danos, em termos de comércio exterior, com países do Oriente Médio e Norte da África. Aí é que reside o papel crucial do MRE como negociador e mitigador de danos, potencializando a abertura dada pelo Marrocos em ser novo aliado brasileiro e interlocutor nesta redução de retaliações comerciais. O acesso a mercados será, portanto, a chave mestra neste quesito.

O terceiro grande desafio está na agenda regional. Como o Brasil aprofundará o relacionamento de aliança com três países centrais – EUA, Itália e Israel – a pergunta é: como promover o diálogo cooperativo com arranjos regionais como a Unasul (claramente em processo de declínio) e como o Mercosul que, segundo Guedes ainda no calor da campanha eleitoral, seria uma amarra comercial para os interesses do Brasil? Como será o nível de relação política, militar, estratégica e diplomática com países que outrora compunham o agora decadente eixo bolivariano (Venezuela, Bolívia, Nicarágua e Cuba)? O Brasil tem potencial de liderança no subsistema latinoamericano e deve desempenhá-lo com maestria sem esquecer das bases de seu nacionalismo, de sua tradição e de sua inserção internacional – equilíbrio delicado e de habilidade neste momento de guerra comercial entre China e os EUA. É necessário diálogo e prudência neste segmento.

Isto posto, vejo, por fim, que deveremos sempre relembrar a frase máxima do chanceler da era Geisel, Azeredo da Silveira, quando dizia que “a melhor tradição do Itamaraty é a de saber renovar-se” – frase essa inclusive citada pelo novo ministro. A renovação – em um primeiro momento vista com desconfiança e temor – é parte da verdade eleitoral e democrática daquele 28 de outubro de 2018 por meio de quase 58 milhões de votos. Que o diálogo democrático seja o marco destas novas mudanças em curso, através de sua competente diplomacia, agora sob nova direção. Vamos aguardar... e, sobretudo, torcer, pois há riscos em cada oportunidade visualizada; há sempre “perigo na esquina”, como dizia a saudosa Elis Regina, em tais ações externas.