MOÇAMBIQUE » Ciclone mata mais de mil pessoas

Publicação: 19/03/2019 03:00

O furacão que varreu Moçambique e o Zimbábue no fim de semana passado, destruindo estradas, pontes, hospitais e escolas, deixou pelo menos 182 mortos, mas este número pode superar os 1.000, alertou ontem o presidente de Moçambique, Filipe Nuysi. O ciclone Idai, que também afetou o Zimbábue, varreu as províncias centrais de Moçambique.

“No momento, oficialmente registramos 84 mortos. Mas quando sobrevoamos a área esta manhã (ontem) para entender o que aconteceu, tudo indica que poderemos registrar mais de 1.000 mortes”, afirmou, em mensagem ao país. “As vidas de mais de 100 mil pessoas estão em perigo”, acrescentou ele, relatando ter visto corpos na água,  o que caracterizava um verdadeiro desastre humanitário.

“Nossa prioridade é salvar vidas. Até o momento, mais de 400 pessoas foram salvas de áreas inundadas”, acrescentou. Imagens aéreas transmitidas pela organização Mission Aviation Fellowship, mostram dezenas de pessoas que se refugiaram em telhados de prédios sólidos, completamente cercados por água.

O ciclone Idai atingiu o centro de Moçambique na noite de quinta-feira, antes de avançar pelo vizinho Zimbábue. Lá, o último balanço registrou 98 mortos e 212 desaparecidos, declarou o porta-voz do governo, Nick Mangwana.

“Temos a impressão de estar lidando com as consequências de uma guerra de grande escala”, avaliou o ministro atualmente encarregado da Defesa, Perrance Shiri.

Em Moçambique, os estragos em Beira, cidade de meio milhão de habitantes, são “enormes e terríveis”, segundo a Federação Internacional da Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho (FICV), que está envolvido nas operações de resgate. Cerca de 90% de Beira e seus arredores foram atingidos. As ruas da cidade estavam ontem cheias de árvores caídas, janelas quebradas e ferro retorcido.

“O ciclone foi extremamente violento e afetou a todos, destruiu famílias, casas, não há palavras para descrevê-lo”, disse Mohamed Badate, de 24 anos, funcionário de uma loja de roupas.Na região, quase 10 mil pessoas foram afetadas, 873 casas foram destruídas e 24 hospitais e 267 salas de aula foram inundadas, de acordo com o relatório da autoridade moçambicana de gerenciamento de desastres.

Em ambos os países, as autoridades temem, no entanto, que o balanço seja pior, com o avanço das operações de resgate.

Em Moçambique, “várias barragens cederam ou atingiram seu nível máximo”, alertou Emma Beaty, da organização não-governamental Oxfam.

O Zimbábue nunca sofreu uma “destruição de infraestruturas deste nível”, disse o ministro dos Transportes, Joel Biggie Matiza. Diante da catástrofe, o presidente Emmerson Mnangagwa retornou às pressas de uma viagem aos Emirados Árabes Unidos.

Os socorristas se concentravam ontem na cidade de Chimanimani (leste), onde uma escola foi parcialmente destruída por um deslizamento de terra que deixou pelo menos três mortos.

A Associação Médica do Zimbábue (Zima) lançou uma convocação de voluntários para ajudar as vítimas e pediu doações de alimentos, água, gás, roupas, cobertores e barracas. As fortes chuvas registradas antes da chegada do ciclone já haviam deixado pelo menos 122 mortos em Moçambique e no Malaui, que não sofreu os estragos do ciclone. (AFP)