El Chapo é condenado à prisão perpétua nos EUA Durou três meses o julgamento do maior narcotraficante do planeta desde a morte de Pablo Escobar

Publicação: 18/07/2019 03:00

A Justiça americana sentenciou Joaquín “El Chapo” Guzmán à prisão perpétua mais um período simbólico de 30 anos, ontem, e ordenou que o ex-chefe da máfia devolva US$ 12,6 bilhões dos lucros de seus crimes. Os advogados do narcotraficante vão recorrer da sentença.

O governo americano garante que o ex-chefe do cartel de Sinaloa, de 62 anos e considerado o maior narcotraficante do planeta após a morte do colombiano Pablo Escobar, foi responsável pela importação, ou tentativa de importação, de pelo menos 1.213 toneladas de cocaína, 1,44 tonelada de base de cocaína, 222 quilos de heroína, quase 50 toneladas de maconha e “quantidades” de metanfetaminas para os Estados Unidos.

Após um julgamento de três meses, um júri o declarou culpado, em 12 de fevereiro, pelos dez crimes de tráfico de drogas, posse de armas e lavagem de dinheiro, dos quais havia sido acusado. Por lei, o juiz federal do Brooklyn Brian Cogan era obrigado a aplicar a prisão perpétua. A Procuradoria exigia mais 30 anos pelo uso de armas de fogo, como metralhadoras, para cometer crimes ligados ao tráfico de drogas. A recomendação foi aceita.

“As provas esmagadoras apresentadas durante o processo mostraram que (Joaquín Guzmán) foi o chefe impiedoso e sanguinário do cartel de Sinaloa”, que ele codirigiu entre 1989 e 2014, escreveu o procurador federal do Brooklyn, Richard Donoghue, em sua acusação antes da sentença.

Durante o julgamento, a acusação apresentou provas de que “El Chapo” ordenou a morte, ou torturou e matou ele mesmo, pelo menos 26 pessoas, incluindo informantes, rivais do tráfico, policiais, sócios e até familiares. Guzmán se expressou oralmente pela primeira vez desde a sua extradição para os EUA, em janeiro de 2017.

Ele afirmou que foi privado de um julgamento justo e denunciou as condições de sua prisão, afirmando ter sido “torturado física, psicológica e mentalmente 24 horas por dia”. “A justiça não foi feita”, afirmou. O ex-assistente de um colaborador de “El Chapo”, Alex Cifuentes, contou que o criminoso ofereceu US$ 1 milhão por sua cabeça.“Sou um milagre divino, porque Guzmán tentou me matar”, disse Andrea Fernandez Velez.

Protagonista de duas espetaculares fugas de prisões mexicanas, “El Chapo” está detido desde sua extradição em isolamento quase total em um presídio de segurança máxima de Manhattan. Deve cumprir sua sentença na prisão de Colorado ADX Florence, conhecida como a Alcatraz das Montanhas Rochosas e considerada a mais segura dos EUA. O julgamento de três meses foi uma fascinante viagem a um dos maiores e mais impiedosos cartéis da droga, um drama com um elenco impressionante: seus próprios protagonistas.

Durante o processo, a Procuradoria convocou 56 testemunhas, incluindo 14 ex-sócios, amigos e até uma amante de “El Chapo” que fugiu com ele nu, correndo por um túnel, assim como agentes do FBI, da DEA e de outras agências do governo americano. (AFP)