Greve de metrô faz Paris ter dia de caos Protesto pela reforma da Previdência francesa causou a maior paralisação dos últimos 12 anos

Publicação: 14/09/2019 03:00

Os parisienses tiveram que se munir de paciência para circular pela capital francesa nesta sexta-feira, em meio a uma greve nos transportes públicos, a maior nos últimos 12 anos, contra a reforma da Previdência preparada pelo governo francês. Dez das 16 linhas do metrô de Paris estavam fechadas e as demais saturadas, os ônibus circulavam em número reduzido e os grandes engarrafamentos evidenciavam o primeiro grande protesto sindical contra a reforma das aposentadorias estimulada pelo governo do presidente Emmanuel Macron.

Dié Sokhonadu, 25 anos, esperou em vão em uma plataforma da linha 12, que atravessa Paris de norte a sul, mas nenhum trem da linha estava em circulação. “Sem metrô, terei que voltar para casa”, disse o operário, que trabalha na reforma da catedral de Notre-Dame, no centro de Paris. A greve também afetou os trens de cidades próximas, usados diariamente por milhares de pessoas que moram ou trabalham nos subúrbios de Paris.

As linhas que levam ao aeroporto Charles de Gaulle, a 20 km da capital, tinham funcionamento irregular. Para evitar o caos, muitos franceses optaram por trabalhar em casa. “Não queria perder tempo tentando pegar o metrô, minha linha está fechada”, declarou à AFP Anne-Sophie Viger, executiva em uma empresa de seguros. Os aplicativos de transporte privado ficaram lotados, e os preços foram às alturas. Às 14h locais, um trajeto de 7 km em paris custava 43 euros no app Kapten, contra 18 euros três horas mais cedo.

A Autoridade Autônoma de Transportes de Paris (RATP) pediu na quinta-feira aos moradores que saíssem de casa apenas em caso de extrema necessidade e anunciou “soluções alternativas de mobilidade”, que incluem o uso gratuito limitado de motos ou bicicletas elétricas de livre serviço, subsídios a quem compartilhar o carro ou estacionamento pela metade do preço.

As pessoas também procuravam as bicicletas e patinetes elétricos de livre serviço que proliferam na capital francesa. Vários operadores, como o Jump da americana Uber ou a francesa Cityscoot, ofereceram trajetos gratuitos de 15 a 30 minutos. Esta greve é a primeira grande mobilização contra o plano do presidente Macron de implementar um sistema de previdência “universal”.

Os funcionários do metrô de Paris, assim como os trabalhadores de outras atividades consideradas difíceis ou perigosas, perderiam assim os benefícios associados a seus regimes especiais, que atualmente permite, por exemplo, a aposentadoria antes dos demais franceses.

O Tribunal de Contas calculou que a idade média de aposentadoria dos trabalhadores da RATP em 2017 era 55,7 anos, contra 63 anos da maioria dos trabalhadores franceses. “Não é uma greve de privilegiados, esta é uma greve de trabalhadores que afirmam 'queremos nos aposentar com uma idade razoável e em condições razoáveis”, declarou à rádio FranceInfo Philippe Martinez, secretário-geral da CGT, um dos principais sindicatos da França.

A greve é a maior no setor de transportes de Paris desde 2007, quando o ex-presidente Nicolas Sarkozy apresentou uma reforma previdenciária que aumentou a idade de aposentadoria da maioria dos funcionários públicos.