Violência e toque de recolher nos EUA Protestos antirracistas se multiplicam no país contra a morte de George Floyd. Ao menos quatro pessoas morreram e 1.700 foram presas nas manifestações

Publicação: 01/06/2020 03:00

No quinto e sexto dia consecutivo de atos pelo fim da violência policial contra negros no Estados Unidos, no sábado e ontem, imagens de protestos se multiplicaram, desafiando toques de recolher impostos a mais de 20 localidades e convocações adicionais de soldados da Guarda Nacional. Em 15 estados e em Washington, cinco mil policiais foram colocados nas ruas e outras dois mil ficaram de prontidão, a pedido dos governadores, para agir controlar as manifestações.

Os atos ocorreram em ao menos 75 cidades na noite do sábado para o domingo, contra cerca de 30 na sexta, de acordo com levantamento do jornal The New York Times. De Nova York à Filadélfia, Dallas, Las Vegas, Seattle, Des Moines, Memphis, Los Angeles, Atlanta, Miami, Portland, Chicago e Washington. Desde o começo dos protestos, quatro pessoas morreram e 1.700 foram presas.

As manifestações desencadeadas há dias pela morte de George Floyd, 46 anos, homem negro cujo pescoço foi prensado no chão pelo joelho de um policial branco, já não se limitam a Minneapolis, onde o crime ocorreu no dia 25 de maio. Elas se espalham, ao mesmo tempo, reações contra o racismo e violência nas ruas.

De Los Angeles a Miami, onde policiais se ajoelharam em solidarieda a luta contra o racismo, e Chicago, os protestos marcados por gritos de “não consigo respirar”, frase dita por Floyd enquanto era sufocado, começaram pacificamente antes de se tornarem tumultuosos, com ruas bloqueadas por ativistas, carros incendiados, saques e até linchamentos.

Do outro lado, as forças de segurança reagiram em cenas de barbárie. Em Nova York, dois carros da polícia atropelaram dezenas de manifestantes que tentavam impedir a passagem dos veículos. Em Atlanta, na Geórgia, dois jovens negros foram arrancados à força de dentro de um carro por policiais que usavam o que parecem ser armas de choque.

Em Salt Lake City, o canal ABC 4 flagrou um agente com escudo empurrando um idoso de bengala. Na mesma cidade, outra cena de selvageria. Em reação a um homem branco que ameaçava manifestantes com arco e flecha, ativistas lincharam o agressor. Viaturas foram incendiadas na Filadélfia, e lojas, saqueadas em Los Angeles. Em Detroit, um homem de 21 anos foi morto por disparos feitos de dentro de um carro.

Nos arredores da Casa Branca, ativistas, por sua vez, atacaram um correspondente do canal Fox News e sua equipe, pegando o microfone do profissional e o atingindo com o objeto. O presidente dos EUA, Donald Trump, por sua vez, vem ameaçando os manifestantes, inclusive com a possibilidade de uso “do poder ilimitado das Forças Armadas”.

Os planos para reabrir lojas e aliviar restrições em cidades fechadas, que se arrasta por semanas, ficou em segundo plano neste momento, em que a violência policial gerou manifestações de fúria. Floyd havia perdido o emprego como segurança em um restaurante por conta das medidas de isolamento social para conter a pandemia. Nascido em Houston e conhecido como “gigante gentil”, foi acusado de assalto a mão armada em 2007 e, em 2009, condenado a cinco anos de cadeia. Ao deixar a prisão, em 2014, mudou-se para Minneapolis. No dia 25, foi detido sob acusação de tentar fazer uma compra com uma nota falsa de US$ 20.

Chauvin, o policial que o sufocou, foi demitido, indiciado e preso na sexta-feira. Caso condenado, poderá pegar até 25 anos de prisão. Os outros três guardas que participaram da ação, Thomas Lane, Tou Thao e J. Alexander Kueng, também serão indiciados.

O estado de Minnesota, onde fica a cidade de Minneapolis, é um dos mais desiguais dos Estados Unidos, segundo critérios de raça (Folhapress)