Influenciando eleitores

Alexandre Rands Barros
Economista, PhD pela Universidade de Illinois e presidente do Diario de Pernambuco

Publicação: 21/07/2018 03:00

Economistas têm se debruçado recentemente sobre determinantes do voto em vários países. Estudos estatísticos utilizando metodologias rigorosas têm procurado identificar a influência de diversos instrumentos de comunicação junto ao eleitorado nas suas decisões de voto. Eles têm sido realizados em vários países da civilização ocidental, principalmente desenvolvidos, como os europeus e na América do Norte. Em tempos de eleições, vale apresentar aqui algumas conclusões desses estudos. Primeiramente vale salientar que eles reconhecem que as discussões em grupos de amigos e familiares são sem dúvida a maior fonte de determinação das escolhas entre candidatos e do comparecimento às urnas (na maioria dos países desenvolvidos o voto não é obrigatório). Tal constatação inclusive influencia muito o papel dos diversos instrumentos de comunicação nas decisões dos eleitores.

A grande influência dos meios de comunicação é reconhecida nesses estudos, principalmente os meios mais tradicionais: jornais, rádio e televisão. Os jornais escritos são vistos como os mais importantes pela sua capacidade de permitir a reflexão e melhor compreensão das informações apresentadas. Pecam, contudo, pelo seu menor alcance do que os outros dois veículos. A internet ainda não consegue influenciar tanto por causa de problemas da reputação das informações. Certamente a expansão recente das redes sociais pode vir a alterar tal resultado, mas principalmente como instrumento de difusão de informações geradas nos meios de comunicação tradicionais, como ocorre com a formação de opiniões sobre os diversos fatos sociais. As informações apresentadas em noticiários e reportagens são muito mais relevantes do que a propaganda eleitoral veiculada nos diversos meios de comunicação. A percepção de que pode haver distorção de informações na publicidade reduz o impacto dessas últimas. Essas conclusões, assim como o impacto relativo da internet versus os meios de comunicação tradicionais, sinalizam na mesma direção. O eleitor desconfia de informações que possam estar tentando ludibriá-lo. Ou seja, ele é mais influenciado por informações com maior credibilidade de imparcialidade.

Vicent Pons, pesquisador da Harvard Business School, publicou estudo na edição de junho de 2018 da American Economic Review, um dos três mais prestigiados periódicos do mundo em Economia, em que avalia o impacto de um trabalho de porta a porta realizado para o candidato François Hollande nas eleições de 2012. Ele concluiu que tal estratégia de campanha foi responsável por elevação de 3,24% dos votos na região em que ele foi realizado. Tal instrumento atingiu 5,02 milhões de domicílios, em cidades de vários portes (incluindo Paris) e áreas rurais. Tais resultados mostram que a interação na comunicação é fundamental na determinação das escolhas dos eleitores. As visitas recebidas são de pessoas reconhecidamente com um viés de informações (eram pró-Hollande), mas a possibilidade de diálogo interativo dá uma boa capacidade de comunicação e convencimento. Mais impressionante ainda é que a evidência mostra que a maior parte dos novos eleitores de Hollande, gerados por esse instrumento de campanha, migraram de candidatos da direita, não dos demais partidos de esquerda da França.

Estudo realizado por mim e André Magalhães na campanha de Carlos Wilson Campos para Prefeito do Recife em 2000 chegou a conclusões semelhantes, porém com impacto ainda maior. O voto em Carlos Wilson aumentou em cerca de 15% nas áreas visitadas. Como as carências de atenção de nossa população são maiores, esse impacto pode ser mais elevado aqui em Pernambuco, como esse estudo mostrou. Fica a dica aí para os candidatos. A mobilização de militantes que possam fazer tais visitas pode render bons resultados, principalmente entre os candidatos com pouca visibilidade com instrumentos imparciais.