EDITORIAL » O voto de valor

Publicação: 21/07/2018 03:00

Cresce, a cada dia, a opção do eleitorado brasileiro pelo voto de protesto, seja votando em branco, anulando ou não comparecendo às seções eleitorais para exercer o direito de escolher seus representantes. O voto é a arma que a população tem para mudar o quadro político atual, que vem sofrendo pesadas críticas pelo comportamento nada republicano de grande parte de seus membros. O caminho apontado pela democracia para mudanças é a urna e de nada adianta o cidadão ficar lamentando e culpando os políticos pelas mazelas da atualidade. O eleitor também é responsável, pois foi ele que concedeu, por meio do voto, o mandato dos que aí estão. Mas pior do que votar mal é a omissão, que representa a negação do elevado direito de cidadania.

É compreensível que, em tempos de crise, o eleitor demonstre sua insatisfação e descrença com o voto de protesto, mas essa não é a melhor opção para o aprimoramento dos sistema democrático. O voto é que define quem vai exercer o comando político e o gerenciamento público e, se os escolhidos não corresponderem às expectativas da população, somente por intermédio das urnas eles poderão ser substituídos. Não há outra fórmula no Estado democrático de direito e, por isso, a valorização do voto é fundamental para que o país siga em frente.

No entanto, a realidade atual preocupa. Não são apenas as pesquisas — no início do mês, levantamento sobre as eleições presidenciais que revelouas intenções do voto em branco ou nulo variam de 22% a 35% — e demonstram a descrença do cidadão com os políticos. A recente eleição suplementar em Tocantins para escolha do novo governador é a prova cabal do desinteresse do eleitor. No primeiro turno, quase metade do eleitorado simplesmente não optou por nenhuma candidatura e a abstenção, somada aos votos brancos e nulos, chegou a quase 50%. No segundo turno foi pior ainda, pois o índice bateu em quase 60%. O vencedor não alcançou a maioria do eleitorado e é de se perguntar: então, qual o grau de representatividade que ele tem para governar?

Esse é o risco que corremos com as próximas eleições majoritárias e proporcionais. Se o cidadão virar as costas para as urnas corre-se o risco de o futuro presidente da República e governadores não representarem a maioria da população, o que não seria nada bom para o processo democrático. O pleito em Tocantins reflete o desencantamento do eleitor com a política de um modo geral, mas esse tipo de atitude em nada contribui para melhorar a situação enfrentada pelo país.

A tendência de queda do envolvimento das pessoas com a política vem ocorrendo desde a redemocratização, com a paulatina acomodação da população. Esse quadro só será revertido pela participação e cobrança por parte do eleitorado. Desconhecer o problema ou dele fugir é premiar os maus políticos que nos levaram a essa descrença geral. O momento é de reação e o voto é a arma maior para a transformar a realidade que aí está.