EDITORIAL » Energia da biomassa

Publicação: 18/08/2018 03:00

A geração de energia por meio de biomassa, que é um sucesso em determinadas regiões do país, notadamente nas áreas produtoras de cana-de-açucar, com a queima do bagaço para mover a indústria açucareira, ganhará novo impulso a partir do próximo mês. Com o incremento do aproveitamento dos resíduos das atividades do agronegócio — causadores de sérios problemas ao meio ambiente se descartados de forma inadequada —, a utilização de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, terá uma queda significativa, diminuindo a emissão de gás carbônico, uma das causas do aquecimento global.

Hoje, o setor responde por 23,5% do Produto Interno Bruto (PIB) e é responsável por 48% das exportações brasileiras, o que demonstra o grau de eficiência e organização na área. A produção e uso de resíduos e efluentes resultantes dessas atividades não têm o mesmo nível tecnológico e organizacional do agronegócio, o que acaba contribuindo para a degradação ambiental. Ademais, o descarte dos resíduos, muitas vezes realizados de forma equivocada, representa um contrassenso, pois está se jogando fora matéria-prima para a geração de energia limpa.

Na tentativa de reverter esse quadro, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) lançaram um projeto-piloto, em Mato Grosso, estado responsável por mais de 50% do agronegócio no Brasil, que estará disponível, em outubro próximo, a todos os produtores rurais do país. A iniciativa pioneira vai mapear e organizar as informações das biomassas, resíduos e efluentes, com o foco principal na bioeconomia.

A proposta é apontar soluções tecnológicas para a transformação dos resíduos da biomassa — de origem doméstica, agropecuária e industrial —, que podem causar graves problemas ao meio ambiente e à saúde pública, em novos produtos, além de energia limpa. O projeto faz parte da Rede Nacional de Produtividade e Inovação (Renapi), em apoio às ações voltadas para o desenvolvimento industrial nos estados, municípios e aglomerações produtivas de todo o país.

Do ponto de vista econômico, um dos principais objetivos do sistema proposto é a transformação da biomassa em energia. Atualmente, um grave problema enfrentado pelo Brasil é o deficit da distribuição e da qualidade energética. Estimativas da Associação Brasileira de Engenharia de Produção revelam que cerca de 40% da produção agroindustrial, hoje, é perdida como consequência da instabilidade de energia, gerando prejuízo de milhões de reais.

O país tem abundância de resíduos vegetais e seu descarte, pura e simplesmente, realmente não é a melhor escolha no momento em que o mundo luta contra a degradação do meio ambiente. Sem contar que sua utilização traz a possibilidade de alavancar a economia nacional, que ainda não se recuperou da forma esperada depois do período longo recessivo.