O avanço do Nordeste na Educação

Rogério Morais
Diretor Executivo de Gestão Pedagógica da Secretaria de Educação do Recife

Publicação: 14/09/2018 03:00

Já está se tornando corriqueiro, edição a edição dos resultados do Saeb, Sistema de Avaliação da Educação Básica do Brasil, a decepção com os níveis de aprendizado alcançados. Um ensino médio “falido”, adjetivo utilizado pelo próprio ministro da Educação, e ligeiras melhorias no ensino fundamental, que ainda não nos deixam seguros de que estamos tomando algum rumo.

No entanto, diante de uma massa de dados tão rica, muitas análises podem ser feitas com base em recortes estaduais, municipais, entre capitais, escolas rurais, urbanas, por exemplo. E tomando como base o enfoque regional, é possível observar um movimento muito positivo no Nordeste. A começar pela melhor capital do país nos anos iniciais e finais do ensino fundamental: Teresina.

Alcançar os primeiros lugares antes reservados a cidades do Sul ou Sudeste, não é um feito simplório, é significante, pois alcança tal patamar a partir de uma base mais desafiadora. O “efeito escola” na capital do Piauí precisa ser muito maior do que o de Florianópolis, visto que como logo demonstrou um dos criadores do IDEB, o professor Chico Soares, o nível socioeconômico tem um peso razoável no resultado apresentado. Em 2015, Chico já afirmava que a melhor capital para um pobre estudar era Teresina, agora então é a melhor para o rico e para o pobre. Resultados fantásticos e que precisam se tornar de domínio público.

Das 10 capitais que mais cresceram nos anos iniciais, seis foram do Nordeste (Teresina, Maceió, Salvador, Recife, Fortaleza e Aracaju) e quatro da região Norte (Palmas, Rio Branco, Manaus e Belém). O maior crescimento entre todas foi de Maceió. No geral, destaca-se também a quantidade de capitais que atingiram ou superaram o índice de 6 pontos no IDEB. Antes, em 2013, somente uma capital (Florianópolis), agora mais 7 (Teresina, Rio Branco, Palmas, Curitiba, Belo Horizonte, Fortaleza e São Paulo). 6 é a meta global para o país para o ano de 2021, número considerado como patamar mínimo de qualidade pelas Nações Unidas.

Nos anos finais, o maior crescimento também foi de uma capital nordestina, o Recife. Das 10 que mais cresceram, nove são do Norte e do Nordeste (Recife, Teresina, Salvador, Maceió, Porto Velho, Fortaleza, Manaus, Aracaju e Macapá). Fora da região, somente o Rio de Janeiro também teve um crescimento destacado na mesma etapa de ensino. Em 2017, das 10 maiores notas das capitais, 5 já são nordestinas ou nortistas.

O crescimento das capitais é louvável porque é justamente nos grandes aglomerados urbanos, onde as mazelas da educação de baixa qualidade mais afetam, trazendo impacto aos níveis de violência e desemprego. Mais louvável ainda o crescimento do Nordeste, porque pode interferir diretamente no encurtamento das desigualdades regionais entre o lado mais ao Sul e o mais ao Norte e deixa uma lição para o país com duplo sentido: [1] mesmo diante de um cenário adverso, o esforço dos educadores pode gerar resultados positivos; [2] os resultados das capitais do Sul e Sudeste, principalmente, mostram uma acomodação com base em resultados medíocres, fruto muito mais do efeito econômico do que do “efeito escola”.