EDITORIAL » Sem luz no fim do túnel

Publicação: 24/09/2018 03:00

Os impactos da crise política, econômica e social da Venezuela se espalham pela América Latina. Estima-se que mais de 2,3 milhões de venezuelanos buscam, desde 2014, refúgio nos países vizinhos, numa fuga desesperada impulsionada por falta de alimentos, emprego e aumento da violência. As forças de segurança pública e as paramilitares, aliadas do presidente Nicolás Maduro, aplicam, sumariamente, a pena morte contra os mais pobres e os descontentes com os rumos do país.

Quase um 1 milhão de pessoas migraram para a Colômbia por meio de acessos terrestres regulares. Outros 45 mil foram por caminhos ilegais, ao longo dos 2 mil km de fronteira. O ex-presidente colombiano Juan Manuel Santos, ante o problema humanitário, instituiu um cartão migratório para os refugiados. O documento facilita o censo migratório e assegura o direito aos sistemas de saúde, educação e ao mercado de trabalho.

O Brasil é outro destino graças à proximidade com Roraima. A chegada dos venezuelanos divide opiniões de membros da sociedade e de políticos roraimenses. Mas o Estado brasileiro tem honrado os acordos humanitários, dos quais é signatário, e tenta encontrar soluções para os migrantes que veem no país um porto seguro. Equador, Chile e Peru também estão na rota de fuga.

Os índices de assassinatos na Vezuela superam os de nações em guerra, como a Síria, e colocam o país entre os mais violentos do mundo, segundo a Anistia Internacional. No ano passado, foram registrados 89 assassinatos por 100 mil habitantes. Em 2016, documento da Procuradoria-Geral da Venezuela revelou que, por dia, em média 12 pessoas foram mortas por agentes do Estado. O Judiciário, subserviente ao chavismo, garante a impunidade aos homicidas.

O presidente Nicolás Maduro insiste em culpar políticos e empresários de oposição pela crise. Por sua vez, os adversários acusam Maduro de ser refratário a qualquer negociação. Diante da resistência de ambos os lados, especialistas não têm dúvida de que, em defesa dos direitos e dos interesses da sociedade venezuelana, é necessária a intervenção de organismos internacionais para equacionar a crise.

A situação crítica não está circunscrita à Venezuela. Reflete-se social e politicamente no continente sul-americano e cria ambiente de insegurança para todos. Estranha que o Brasil, tantas vezes protagonista em momentos difíceis na região, não tenha dado passos rumo à concertação política nacional. A principal economia do subcontinente precisa fazer valer o seu papel de líder e agir de forma decisiva ante uma catástrofe humanitária.