A politização do ambiente corporativo

Sabrina Medeiros
Pesquisadora na área de comunicação interna e employer branding, mestranda em Indústrias Criativas (Unicap)

Publicação: 18/10/2018 03:00

Não é apenas nas suas redes sociais que só se fala em política. As eleições presidenciais deste ano levaram muita gente a se posicionar no ambiente digital, expondo pontos de vista e preferências políticas. Essa superexposição no mundo virtual, no entanto, pode trazer consequências reais. Prova disso foi a demissão do diretor geral de atendimento da agência África, uma das maiores empresas de publicidade do país. Ele usou sua conta em uma rede social para fazer uma declaração preconceituosa com relação ao Nordeste, motivada pelo resultado do primeiro turno das eleições presidenciais na região. O publicitário foi desligado da empresa, cujo fundador e um dos presidentes são nordestinos. Após afastá-lo, a agência divulgou nota explicando que “a conduta do funcionário não coincide com a nossa crença, não está à altura da nossa história (...) e fere nosso Código de Conduta”.

Por outro lado, os empregados não podem se sentir ameaçados nem serem coagidos a votarem em determinado candidato. Mesmo sendo prática ilegal, 120 denúncias foram registradas em todas as procuradorias do Ministério Público do Trabalho (MPT) contra 32 empresas em todo o Brasil, até a primeira semana de outubro. Um dos casos de maior repercussão foi o da Havan. Em vídeo que circulou nas redes sociais, o proprietário da rede de departamentos defendia o nome de um candidato, declarava que fez pesquisas em suas lojas para saber o voto dos funcionários e perguntava se os colaboradores estavam “preparados para sair” caso o candidato dele não ganhasse. Por decisão da Justiça do Trabalho, o empresário teve que voltar às redes sociais para se retratar e declarar que o voto deve ser livre, sob pena de multa.

Polêmicas à parte, as eleições não são - e nem devem ser - assunto proibido no ambiente corporativo. O período eleitoral é uma boa oportunidade para que as empresas promovam a educação política enquanto cidadania. Os canais de comunicação interna podem ser usados com temas que esclareçam dúvidas e contribuam para consciência cidadã. O assunto também pode ser pensado estrategicamente, como grandes marcas já estão fazendo ao usar o marketing para se posicionar diante de questões sociais. Um exemplo é a Burger King, que lançou uma campanha para enfatizar o voto consciente. A rede de fast food exibiu comercial, durante intervalo de um debate de presidenciáveis na TV aberta, que mostrava consumidores recebendo sanduíches sem hambúrguer, embalados com a mensagem “votar em branco é o mesmo que abrir mão do seu direito de escolha, e quando alguém escolhe no seu lugar não dá para reclamar do resultado”. De acordo com o site Grandes Nomes da Propaganda, em menos de 12 horas, foram feitas mais de 41 mil menções, 1,6 milhão de visualizações, 48 mil compartilhamentos e quase 90% de menções positivas à campanha.

Essa e outras ações bem-sucedidas servem de inspiração “para dentro”. Ou seja, com a popularização das redes sociais e o consequente fim das fronteiras entre as esferas pública e privada, a realização de campanhas de endomarketing criativas, que causem empatia no empregado e elevem o orgulho de pertencer àquela companhia podem gerar um impacto tão positivo quanto uma publicidade de alto custo. Afinal, tudo que acontece dentro do ambiente de trabalho acaba indo parar nas redes sociais por meio dos colaboradores, que são hoje os principais embaixadores da sua marca. Então, por que não planejar para aparecer bem? A reputação da sua empresa agradece.